LEI FEDERAL Nº 12.852, DE 05/08/2013 - DOU 06/08/2013
LEI FEDERAL Nº 12.852, DE 05/08/2013 - DOU 06/08/2013
Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
A Presidenta da República
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
DOS DIREITOS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE
Art. 1º Esta
Lei institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e
o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.
§ 1º Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade.
§ 2º Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos aplica-se a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este
Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do
adolescente.
Seção I
Dos Princípios
Art. 2º O disposto nesta Lei e as políticas públicas de juventude são regidos pelos seguintes princípios:
I - promoção da autonomia e emancipação dos jovens;
II - valorização e promoção da participação social e política, de forma direta e por meio de suas representações;
III - promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do País;
IV - reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares;
V - promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem;
VI - respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da juventude;
VII - promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e
VIII - valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações.
Parágrafo único. A emancipação dos jovens a que se refere o inciso I do caput refere-se
à trajetória de inclusão, liberdade e participação do jovem na vida em
sociedade, e não ao instituto da emancipação disciplinado pela Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
Seção II
Diretrizes Gerais
Art. 3º Os agentes públicos ou privados envolvidos com políticas públicas de juventude devem observar as seguintes diretrizes:
I - desenvolver a intersetorialidade das políticas estruturais, programas e ações;
II - incentivar a ampla participação juvenil em sua formulação, implementação e avaliação;
III
- ampliar as alternativas de inserção social do jovem, promovendo
programas que priorizem o seu desenvolvimento integral e participação
ativa nos espaços decisórios;
IV
- proporcionar atendimento de acordo com suas especificidades perante
os órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população,
visando ao gozo de direitos simultaneamente nos campos da saúde,
educacional, político, econômico, social, cultural e ambiental;
V
- garantir meios e equipamentos públicos que promovam o acesso à
produção cultural, à prática esportiva, à mobilidade territorial e à
fruição do tempo livre;
VI - promover o território como espaço de integração;
VII - fortalecer as relações institucionais com os entes federados e as redes de órgãos, gestores e conselhos de juventude;
VIII - estabelecer mecanismos que ampliem a gestão de informação e produção de conhecimento sobre juventude;
IX
- promover a integração internacional entre os jovens,
preferencialmente no âmbito da América Latina e da África, e a
cooperação internacional;
X
- garantir a integração das políticas de juventude com os Poderes
Legislativo e Judiciário, com o Ministério Público e com a Defensoria
Pública; e
XI
- zelar pelos direitos dos jovens com idade entre 18 (dezoito) e 29
(vinte e nove) anos privados de liberdade e egressos do sistema
prisional, formulando políticas de educação e trabalho, incluindo
estímulos à sua reinserção social e laboral, bem como criando e
estimulando oportunidades de estudo e trabalho que favoreçam o
cumprimento do regime semiaberto.
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DOS JOVENS
Seção I
Do Direito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil
Art. 4º O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude.
Parágrafo único. Entende-se por participação juvenil:
I
- a inclusão do jovem nos espaços públicos e comunitários a partir da
sua concepção como pessoa ativa, livre, responsável e digna de ocupar
uma posição central nos processos políticos e sociais;
II
- o envolvimento ativo dos jovens em ações de políticas públicas que
tenham por objetivo o próprio benefício, o de suas comunidades, cidades e
regiões e o do País;
III
- a participação individual e coletiva do jovem em ações que contemplem
a defesa dos direitos da juventude ou de temas afetos aos jovens; e
IV - a efetiva inclusão dos jovens nos espaços públicos de decisão com direito a voz e voto.
Art. 5º A
interlocução da juventude com o poder público pode realizar-se por
intermédio de associações, redes, movimentos e organizações juvenis.
Parágrafo único. É dever do poder público incentivar a livre associação dos jovens.
Art. 6º São diretrizes da interlocução institucional juvenil:
I - a definição de órgão governamental específico para a gestão das políticas públicas de juventude;
II - o incentivo à criação de conselhos de juventude em todos os entes da Federação.
Parágrafo
único. Sem prejuízo das atribuições do órgão governamental específico
para a gestão das políticas públicas de juventude e dos conselhos de
juventude com relação aos direitos previstos neste Estatuto, cabe ao
órgão governamental de gestão e aos conselhos dos direitos da criança e
do adolescente a interlocução institucional com adolescentes de idade
entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos.
Seção II
Do Direito à Educação
Art. 7º O
jovem tem direito à educação de qualidade, com a garantia de educação
básica, obrigatória e gratuita, inclusive para os que a ela não tiveram
acesso na idade adequada.
§ 1º A
educação básica será ministrada em língua portuguesa, assegurada aos
jovens indígenas e de povos e comunidades tradicionais a utilização de
suas línguas maternas e de processos próprios de aprendizagem.
§ 2º É
dever do Estado oferecer aos jovens que não concluíram a educação
básica programas na modalidade da educação de jovens e adultos,
adaptados às necessidades e especificidades da juventude, inclusive no
período noturno, ressalvada a legislação educacional específica.
§ 3º São
assegurados aos jovens com surdez o uso e o ensino da Língua Brasileira
de Sinais - LIBRAS, em todas as etapas e modalidades educacionais.
§ 4º É
assegurada aos jovens com deficiência a inclusão no ensino regular em
todos os níveis e modalidades educacionais, incluindo o atendimento
educacional especializado, observada a acessibilidade a edificações,
transportes, espaços, mobiliários, equipamentos, sistemas e meios de
comunicação e assegurados os recursos de tecnologia assistiva e
adaptações necessárias a cada pessoa.
§ 5º A
Política Nacional de Educação no Campo contemplará a ampliação da
oferta de educação para os jovens do campo, em todos os níveis e
modalidades educacionais.
Art. 8º O
jovem tem direito à educação superior, em instituições públicas ou
privadas, com variados graus de abrangência do saber ou especialização
do conhecimento, observadas as regras de acesso de cada instituição.
§ 1º É
assegurado aos jovens negros, indígenas e alunos oriundos da escola
pública o acesso ao ensino superior nas instituições públicas por meio
de políticas afirmativas, nos termos da lei.
§ 2º O
poder público promoverá programas de expansão da oferta de educação
superior nas instituições públicas, de financiamento estudantil e de
bolsas de estudos nas instituições privadas, em especial para jovens com
deficiência, negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública.
Art. 9º O
jovem tem direito à educação profissional e tecnológica, articulada com
os diferentes níveis e modalidades de educação, ao trabalho, à ciência e
à tecnologia, observada a legislação vigente.
Art. 10. É
dever do Estado assegurar ao jovem com deficiência o atendimento
educacional especializado gratuito, preferencialmente, na rede regular
de ensino.
Art. 11. O direito ao programa suplementar de transporte escolar de que trata o art. 4º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 ,
será progressivamente estendido ao jovem estudante do ensino
fundamental, do ensino médio e da educação superior, no campo e na
cidade.
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).
Art. 12. É
garantida a participação efetiva do segmento juvenil, respeitada sua
liberdade de organização, nos conselhos e instâncias deliberativas de
gestão democrática das escolas e universidades.
Art. 13. As
escolas e as universidades deverão formular e implantar medidas de
democratização do acesso e permanência, inclusive programas de
assistência estudantil, ação afirmativa e inclusão social para os jovens
estudantes.
Seção III
Do Direito à Profissionalização, ao Trabalho e à Renda
Art. 14. O
jovem tem direito à profissionalização, ao trabalho e à renda, exercido
em condições de liberdade, equidade e segurança, adequadamente
remunerado e com proteção social.
Art. 15. A
ação do poder público na efetivação do direito do jovem à
profissionalização, ao trabalho e à renda contempla a adoção das
seguintes medidas:
I - promoção de formas coletivas de organização para o trabalho, de redes de economia solidária e da livre associação;
II - oferta de condições especiais de jornada de trabalho por meio de:
a) compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo;
b)
oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em horários que
permitam a compatibilização da frequência escolar com o trabalho
regular;
III - criação de linha de crédito especial destinada aos jovens empreendedores;
IV - atuação estatal preventiva e repressiva quanto à exploração e precarização do trabalho juvenil;
V - adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do estágio, aprendizagem e trabalho para a juventude;
VI
- apoio ao jovem trabalhador rural na organização da produção da
agricultura familiar e dos empreendimentos familiares rurais, por meio
das seguintes ações:
a) estímulo à produção e à diversificação de produtos;
b)
fomento à produção sustentável baseada na agroecologia, nas
agroindústrias familiares, na integração entre lavoura, pecuária e
floresta e no extrativismo sustentável;
c) investimento em pesquisa de tecnologias apropriadas à agricultura familiar e aos empreendimentos familiares rurais;
d)
estímulo à comercialização direta da produção da agricultura familiar,
aos empreendimentos familiares rurais e à formação de cooperativas;
e)
garantia de projetos de infraestrutura básica de acesso e escoamento de
produção, priorizando a melhoria das estradas e do transporte;
f) promoção de programas que favoreçam o acesso ao crédito, à terra e à assistência técnica rural;
VII - apoio ao jovem trabalhador com deficiência, por meio das seguintes ações:
a) estímulo à formação e à qualificação profissional em ambiente inclusivo;
b) oferta de condições especiais de jornada de trabalho;
c) estímulo à inserção no mercado de trabalho por meio da condição de aprendiz.
Art. 16. O
direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes
com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos de idade será regido
pelo disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e em leis específicas, não se aplicando o previsto nesta Seção.
Seção IV
Do Direito à Diversidade e à Igualdade
Art. 17. O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de direitos e de oportunidades e não será discriminado por motivo de:
I - etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;
II - orientação sexual, idioma ou religião;
III - opinião, deficiência e condição social ou econômica.
Art. 18. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à diversidade e à igualdade contempla a adoção das seguintes medidas:
I
- adoção, nos âmbitos federal, estadual, municipal e do Distrito
Federal, de programas governamentais destinados a assegurar a igualdade
de direitos aos jovens de todas as raças e etnias, independentemente de
sua origem, relativamente à educação, à profissionalização, ao trabalho e
renda, à cultura, à saúde, à segurança, à cidadania e ao acesso à
justiça;
II
- capacitação dos professores dos ensinos fundamental e médio para a
aplicação das diretrizes curriculares nacionais no que se refere ao
enfrentamento de todas as formas de discriminação;
III
- inclusão de temas sobre questões étnicas, raciais, de deficiência, de
orientação sexual, de gênero e de violência doméstica e sexual
praticada contra a mulher na formação dos profissionais de educação, de
saúde e de segurança pública e dos operadores do direito;
IV - observância das diretrizes curriculares para a educação indígena como forma de preservação dessa cultura;
V
- inclusão, nos conteúdos curriculares, de informações sobre a
discriminação na sociedade brasileira e sobre o direito de todos os
grupos e indivíduos a tratamento igualitário perante a lei; e
VI - inclusão, nos conteúdos curriculares, de temas relacionados à sexualidade, respeitando a diversidade de valores e crenças.
Seção V
Do Direito à Saúde
Art. 19. O
jovem tem direito à saúde e à qualidade de vida, considerando suas
especificidades na dimensão da prevenção, promoção, proteção e
recuperação da saúde de forma integral.
Art. 20. A política pública de atenção à saúde do jovem será desenvolvida em consonância com as seguintes diretrizes:
I
- acesso universal e gratuito ao Sistema Único de Saúde - SUS e a
serviços de saúde humanizados e de qualidade, que respeitem as
especificidades do jovem;
II - atenção integral à saúde, com especial ênfase ao atendimento e à prevenção dos agravos mais prevalentes nos jovens;
III
- desenvolvimento de ações articuladas entre os serviços de saúde e os
estabelecimentos de ensino, a sociedade e a família, com vistas à
prevenção de agravos;
IV
- garantia da inclusão de temas relativos ao consumo de álcool, tabaco e
outras drogas, à saúde sexual e reprodutiva, com enfoque de gênero e
dos direitos sexuais e reprodutivos nos projetos pedagógicos dos
diversos níveis de ensino;
V - reconhecimento do impacto da gravidez planejada ou não, sob os aspectos médico, psicológico, social e econômico;
VI
- capacitação dos profissionais de saúde, em uma perspectiva
multiprofissional, para lidar com temas relativos à saúde sexual e
reprodutiva dos jovens, inclusive com deficiência, e ao abuso de álcool,
tabaco e outras drogas pelos jovens;
VII
- habilitação dos professores e profissionais de saúde e de assistência
social para a identificação dos problemas relacionados ao uso abusivo e
à dependência de álcool, tabaco e outras drogas e o devido
encaminhamento aos serviços assistenciais e de saúde;
VIII
- valorização das parcerias com instituições da sociedade civil na
abordagem das questões de prevenção, tratamento e reinserção social dos
usuários e dependentes de álcool, tabaco e outras drogas;
IX
- proibição de propagandas de bebidas contendo qualquer teor alcoólico
com a participação de pessoa com menos de 18 (dezoito) anos de idade;
X - veiculação de campanhas educativas relativas ao álcool, ao tabaco e a outras drogas como causadores de dependência; e
XI
- articulação das instâncias de saúde e justiça na prevenção do uso e
abuso de álcool, tabaco e outras drogas, inclusive esteróides
anabolizantes e, especialmente, crack.
Seção VI
Do Direito à Cultura
Art. 21. O
jovem tem direito à cultura, incluindo a livre criação, o acesso aos
bens e serviços culturais e a participação nas decisões de política
cultural, à identidade e diversidade cultural e à memória social.
Art. 22. Na consecução dos direitos culturais da juventude, compete ao poder público:
I - garantir ao jovem a participação no processo de produção, reelaboração e fruição dos bens culturais;
II - propiciar ao jovem o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços reduzidos, em âmbito nacional;
III
- incentivar os movimentos de jovens a desenvolver atividades
artístico-culturais e ações voltadas à preservação do patrimônio
histórico;
IV - valorizar a capacidade criativa do jovem, mediante o desenvolvimento de programas e projetos culturais;
V - propiciar ao jovem o conhecimento da diversidade cultural, regional e étnica do País;
VI
- promover programas educativos e culturais voltados para a
problemática do jovem nas emissoras de rádio e televisão e nos demais
meios de comunicação de massa;
VII - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso às novas tecnologias da informação e comunicação;
VIII
- assegurar ao jovem do campo o direito à produção e à fruição cultural
e aos equipamentos públicos que valorizem a cultura camponesa; e
IX - garantir ao jovem com deficiência acessibilidade e adaptações razoáveis.
Parágrafo único. A aplicação dos incisos I, III e VIII do caput deve observar a legislação específica sobre o direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.
Art. 23. É
assegurado aos jovens de até 29 (vinte e nove) anos pertencentes a
famílias de baixa renda e aos estudantes, na forma do regulamento, o
acesso a salas de cinema, cineclubes, teatros, espetáculos musicais e
circenses, eventos educativos, esportivos, de lazer e entretenimento, em
todo o território nacional, promovidos por quaisquer entidades e
realizados em estabelecimentos públicos ou particulares, mediante
pagamento da metade do preço do ingresso cobrado do público em geral.
§ 1º Terão direito ao benefício previsto no caput os estudantes regularmente matriculados nos níveis e modalidades de educação e ensino previstos no Título V da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996
- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que comprovem sua
condição de discente, mediante apresentação, no momento da aquisição do
ingresso e na portaria do local de realização do evento, da Carteira de
Identificação Estudantil - CIE.
§ 2º A
CIE será expedida preferencialmente pela Associação Nacional de
Pós-Graduandos, pela União Nacional dos Estudantes, pela União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas e por entidades estudantis
estaduais e municipais a elas filiadas.
§ 3º É garantida a gratuidade na expedição da CIE para estudantes pertencentes a famílias de baixa renda, nos termos do regulamento.
§ 4º As entidades mencionadas no § 2º deste artigo deverão tornar disponível, para eventuais consultas pelo poder público e pelos estabelecimentos referidos no caput,
banco de dados com o nome e o número de registro dos estudantes
portadores da Carteira de Identificação Estudantil, expedida nos termos
do § 3º deste artigo.
§ 5º A CIE terá validade até o dia 31 de março do ano subsequente à data de sua expedição.
§ 6º As entidades mencionadas no § 2º deste
artigo são obrigadas a manter o documento comprobatório do vínculo do
aluno com o estabelecimento escolar, pelo mesmo prazo de validade da
respectiva Carteira de Identificação Estudantil.
§ 7º Caberá
aos órgãos públicos competentes federais, estaduais, municipais e do
Distrito Federal a fiscalização do cumprimento do disposto neste artigo e
a aplicação das sanções cabíveis, nos termos do regulamento.
§ 8º Os benefícios previstos neste artigo não incidirão sobre os eventos esportivos de que tratam as Leis nºs 12.663, de 5 de junho de 2012 , e 12.780, de 9 de janeiro de 2013 .
§ 9º Considera-se de baixa renda, para os fins do disposto no caput,
a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo
Federal - CadÚnico cuja renda mensal seja de até 2 (dois) salários
mínimos.
§ 10. A concessão do benefício da meia-entrada de que trata o caput é limitada a 40% (quarenta por cento) do total de ingressos disponíveis para cada evento.
Art. 24. O
poder público destinará, no âmbito dos respectivos orçamentos, recursos
financeiros para o fomento dos projetos culturais destinados aos jovens
e por eles produzidos.
Art. 25. Na destinação dos recursos do Fundo Nacional da Cultura - FNC, de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991 ,
serão consideradas as necessidades específicas dos jovens em relação à
ampliação do acesso à cultura e à melhoria das condições para o
exercício do protagonismo no campo da produção cultural.
Parágrafo
único. As pessoas físicas ou jurídicas poderão optar pela aplicação de
parcelas do imposto sobre a renda a título de doações ou patrocínios, de
que trata a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991 , no apoio a projetos culturais apresentados por entidades juvenis legalmente constituídas há, pelo menos, 1 (um) ano.
Seção VII
Do Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão
Art. 26. O
jovem tem direito à comunicação e à livre expressão, à produção de
conteúdo, individual e colaborativo, e ao acesso às tecnologias de
informação e comunicação.
Art. 27. A
ação do poder público na efetivação do direito do jovem à comunicação e
à liberdade de expressão contempla a adoção das seguintes medidas:
I
- incentivar programas educativos e culturais voltados para os jovens
nas emissoras de rádio e televisão e nos demais meios de comunicação de
massa;
II - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso às novas tecnologias de informação e comunicação;
III - promover as redes e plataformas de comunicação dos jovens, considerando a acessibilidade para os jovens com deficiência;
IV - incentivar a criação e manutenção de equipamentos públicos voltados para a promoção do direito do jovem à comunicação; e
V
- garantir a acessibilidade à comunicação por meio de tecnologias
assistivas e adaptações razoáveis para os jovens com deficiência.
Seção VIII
Do Direito ao Desporto e ao Lazer
Art. 28. O jovem tem direito à prática desportiva destinada a seu pleno desenvolvimento, com prioridade para o desporto de participação.
Parágrafo
único. O direito à prática desportiva dos adolescentes deverá
considerar sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Art. 29. A política pública de desporto e lazer destinada ao jovem deverá considerar:
I
- a realização de diagnóstico e estudos estatísticos oficiais acerca da
educação física e dos desportos e dos equipamentos de lazer no Brasil;
II - a adoção de lei de incentivo fiscal para o esporte, com critérios que priorizem a juventude e promovam a equidade;
III - a valorização do desporto e do paradesporto educacional;
IV - a oferta de equipamentos comunitários que permitam a prática desportiva, cultural e de lazer.
Art. 30. Todas as escolas deverão buscar pelo menos um local apropriado para a prática de atividades poliesportivas.
Seção IX
Do Direito ao Território e à Mobilidade
Art. 31. O
jovem tem direito ao território e à mobilidade, incluindo a promoção de
políticas públicas de moradia, circulação e equipamentos públicos, no
campo e na cidade.
Parágrafo único. Ao jovem com deficiência devem ser garantidas a acessibilidade e as adaptações necessárias.
Art. 32. No sistema de transporte coletivo interestadual, observar-se-á, nos termos da legislação específica:
I - a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para jovens de baixa renda;
II
- a reserva de 2 (duas) vagas por veículo com desconto de 50%
(cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os jovens
de baixa renda, a serem utilizadas após esgotadas as vagas previstas no
inciso I.
Parágrafo
único. Os procedimentos e os critérios para o exercício dos direitos
previstos nos incisos I e II serão definidos em regulamento.
Art. 33. A
União envidará esforços, em articulação com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, para promover a oferta de transporte público
subsidiado para os jovens, com prioridade para os jovens em situação de
pobreza e vulnerabilidade, na forma do regulamento.
Seção X
Do Direito à Sustentabilidade e ao Meio Ambiente
Art. 34. O
jovem tem direito à sustentabilidade e ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de
vida, e o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e as futuras
gerações.
Art. 35. O
Estado promoverá, em todos os níveis de ensino, a educação ambiental
voltada para a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade, de
acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente.
Art. 36. Na
elaboração, na execução e na avaliação de políticas públicas que
incorporem a dimensão ambiental, o poder público deverá considerar:
I
- o estímulo e o fortalecimento de organizações, movimentos, redes e
outros coletivos de juventude que atuem no âmbito das questões
ambientais e em prol do desenvolvimento sustentável;
II - o incentivo à participação dos jovens na elaboração das políticas públicas de meio ambiente;
III - a criação de programas de educação ambiental destinados aos jovens; e
IV
- o incentivo à participação dos jovens em projetos de geração de
trabalho e renda que visem ao desenvolvimento sustentável nos âmbitos
rural e urbano.
Parágrafo único. A aplicação do disposto no inciso IV do caput deve observar a legislação específica sobre o direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.
Seção XI
Do Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça
Art. 37. Todos
os jovens têm direito de viver em um ambiente seguro, sem violência,
com garantia da sua incolumidade física e mental, sendo-lhes asseguradas
a igualdade de oportunidades e facilidades para seu aperfeiçoamento
intelectual, cultural e social.
Art. 38. As
políticas de segurança pública voltadas para os jovens deverão
articular ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e ações não governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração com as demais políticas voltadas à juventude;
II - a prevenção e enfrentamento da violência;
III
- a promoção de estudos e pesquisas e a obtenção de estatísticas e
informações relevantes para subsidiar as ações de segurança pública e
permitir a avaliação periódica dos impactos das políticas públicas
quanto às causas, às consequências e à frequência da violência contra os
jovens;
IV
- a priorização de ações voltadas para os jovens em situação de risco,
vulnerabilidade social e egressos do sistema penitenciário nacional;
V - a promoção do acesso efetivo dos jovens à Defensoria Pública, considerando as especificidades da condição juvenil; e
VI
- a promoção do efetivo acesso dos jovens com deficiência à justiça em
igualdade de condições com as demais pessoas, inclusive mediante a
provisão de adaptações processuais adequadas a sua idade.
TÍTULO II
DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE
CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE - SINAJUVE
Art. 39. É
instituído o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE, cujos
composição, organização, competência e funcionamento serão definidos em
regulamento.
Art. 40. O financiamento das ações e atividades realizadas no âmbito do Sinajuve será definido em regulamento.
CAPÍTULO II
DAS COMPETÊNCIAS
Art. 41. Compete à União:
I - formular e coordenar a execução da Política Nacional de Juventude;
II - coordenar e manter o Sinajuve;
III - estabelecer diretrizes sobre a organização e o funcionamento do Sinajuve;
IV
- elaborar o Plano Nacional de Políticas de Juventude, em parceria com
os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e a sociedade, em especial
a juventude;
V
- convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Nacional de
Juventude, as Conferências Nacionais de Juventude, com intervalo máximo
de 4 (quatro) anos;
VI
- prestar assistência técnica e suplementação financeira aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus
sistemas de juventude;
VII - contribuir para a qualificação e ação em rede do Sinajuve em todos os entes da Federação;
VIII - financiar, com os demais entes federados, a execução das políticas públicas de juventude;
IX
- estabelecer formas de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios para a execução das políticas públicas de juventude; e
X
- garantir a publicidade de informações sobre repasses de recursos para
financiamento das políticas públicas de juventude aos conselhos e
gestores estaduais, do Distrito Federal e municipais.
Art. 42. Compete aos Estados:
I - coordenar, em âmbito estadual, o Sinajuve;
II
- elaborar os respectivos planos estaduais de juventude, em
conformidade com o Plano Nacional, com a participação da sociedade, em
especial da juventude;
III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos para a execução das políticas públicas de juventude;
IV
- convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Estadual de
Juventude, as Conferências Estaduais de Juventude, com intervalo máximo
de 4 (quatro) anos;
V - editar normas complementares para a organização e o funcionamento do Sinajuve, em âmbito estadual e municipal;
VI - estabelecer com a União e os Municípios formas de colaboração para a execução das políticas públicas de juventude; e
VII - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas, ações e projetos das políticas públicas de juventude.
Parágrafo único. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população jovem do País.
Art. 43. Compete aos Municípios:
I - coordenar, em âmbito municipal, o Sinajuve;
II
- elaborar os respectivos planos municipais de juventude, em
conformidade com os respectivos Planos Nacional e Estadual, com a
participação da sociedade, em especial da juventude;
III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos para a execução das políticas públicas de juventude;
IV
- convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Municipal de
Juventude, as Conferências Municipais de Juventude, com intervalo máximo
de 4 (quatro) anos;
V - editar normas complementares para a organização e funcionamento do Sinajuve, em âmbito municipal;
VI
- cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas,
ações e projetos das políticas públicas de juventude; e
VII - estabelecer mecanismos de cooperação com os Estados e a União para a execução das políticas públicas de juventude.
Parágrafo
único. Para garantir a articulação federativa com vistas ao efetivo
cumprimento das políticas públicas de juventude, os Municípios podem
instituir os consórcios de que trata a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005 , ou qualquer outro instrumento jurídico adequado, como forma de compartilhar responsabilidades.
Art. 44. As competências dos Estados e Municípios são atribuídas, cumulativamente, ao Distrito Federal.
CAPÍTULO III
DOS CONSELHOS DE JUVENTUDE
Art. 45. Os
conselhos de juventude são órgãos permanentes e autônomos, não
jurisdicionais, encarregados de tratar das políticas públicas de
juventude e da garantia do exercício dos direitos do jovem, com os
seguintes objetivos:
I
- auxiliar na elaboração de políticas públicas de juventude que
promovam o amplo exercício dos direitos dos jovens estabelecidos nesta
Lei;
II - utilizar instrumentos de forma a buscar que o Estado garanta aos jovens o exercício dos seus direitos;
III - colaborar com os órgãos da administração no planejamento e na implementação das políticas de juventude;
IV
- estudar, analisar, elaborar, discutir e propor a celebração de
instrumentos de cooperação, visando à elaboração de programas, projetos e
ações voltados para a juventude;
V
- promover a realização de estudos relativos à juventude, objetivando
subsidiar o planejamento das políticas públicas de juventude;
VI
- estudar, analisar, elaborar, discutir e propor políticas públicas que
permitam e garantam a integração e a participação do jovem nos
processos social, econômico, político e cultural no respectivo ente
federado;
VII - propor a criação de formas de participação da juventude nos órgãos da administração pública;
VIII
- promover e participar de seminários, cursos, congressos e eventos
correlatos para o debate de temas relativos à juventude;
IX - desenvolver outras atividades relacionadas às políticas públicas de juventude.
§ 1º A
lei, em âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal,
disporá sobre a organização, o funcionamento e a composição dos
conselhos de juventude, observada a participação da sociedade civil
mediante critério, no mínimo, paritário com os representantes do poder
público.
§ 2º (VETADO).
Art. 46. São atribuições dos conselhos de juventude:
I
- encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua
infração administrativa ou penal contra os direitos do jovem garantidos
na legislação;
II - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
III - expedir notificações;
IV - solicitar informações das autoridades públicas;
V
- assessorar o Poder Executivo local na elaboração dos planos,
programas, projetos, ações e proposta orçamentária das políticas
públicas de juventude.
Art. 47. Sem
prejuízo das atribuições dos conselhos de juventude com relação aos
direitos previstos neste Estatuto, cabe aos conselhos de direitos da
criança e do adolescente deliberar e controlar as ações em todos os
níveis relativas aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18
(dezoito) anos.
Art. 48. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.
Brasília, 5 de agosto de 2013 ; 192º da Independência e 125º da República.
DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Antonio de Aguiar Patriota
Guido Mantega
César Borges
Aloizio Mercadante
Manoel Dias
Alexandre Rocha Santos Padilha
Miriam Belchior
Paulo Bernardo Silva
Tereza Campello
Marta Suplicy
Izabella Mônica Vieira Teixeira
Aldo Rebelo
Gilberto José Spier Vargas
Aguinaldo Ribeiro
Gilberto Carvalho
Luís Inácio Lucena Adams
Luiza Helena de Bairros
Eleonora Menicucci de Oliveira
Maria do Rosário Nunes
MENSAGEM Nº 330, DE 5 DE AGOSTO DE 2013
Senhor Presidente do Senado Federal,
Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1º do
art. 66 da Constituição, decidi vetar parcialmente, por contrariedade
ao interesse público e inconstitucionalidade, o Projeto de Lei nº 4.529,
de 2004 (nº 98/2011
no Senado Federal), que “Institui o Estatuto da Juventude e dispõe
sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas
públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE”.
Ouvidos,
os Ministérios da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão e dos
Transportes manifestaram-se pelo veto aos seguintes dispositivos:
§§ 1º e 2º do art. 11
"§ 1º Todos
os jovens estudantes na faixa etária compreendida entre 15 (quinze) e
29 (vinte e nove) anos têm direito à meia-passagem nos transportes
interestaduais, independentemente da finalidade da viagem, conforme a
legislação federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 2º Os benefícios expressos no caput e no § 1º serão custeados, preferencialmente, com recursos orçamentários específicos extratarifários."
Razões dos vetos
“Tal
como redigida, a proposta teria um impacto estimado de mais de R$
8.000.000.000,00 (oito bilhões de reais) sobre o sistema de transporte
coletivo interestadual de passageiros, que teria que ser financiado pelo
orçamento da União ou pelas próprias tarifas do sistema. Com relação à
primeira hipótese, o texto não previu as medidas necessárias para
compensar o impacto, violando o disposto na Lei de Responsabilidade
Fiscal e colocando em risco outros direitos sociais que poderiam perder
recursos com a implantação da nova medida. No que tange ao financiamento
pelo próprio sistema, isso implicaria uma elevação substancial em todas
as tarifas de transporte interestadual do país, o que significaria que o
maior ônus recairia justamente sobre a população de baixa renda,
inclusive os jovens pobres que não sejam estudantes. A própria lei já
apresenta outras medidas socialmente mais justas para assegurar o acesso
da juventude ao transporte interestadual, como aquelas previstas em seu
art. 32, que são voltadas especificamente para os jovens de baixa
renda."
O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão opinou, ainda, pelo veto ao dispositivo a seguir transcrito:
§ 2º do art. 45
"§ 2º Constará
da lei orçamentária federal, estadual, do Distrito Federal e municipal
previsão dos recursos necessários ao funcionamento do conselho de
juventude do respectivo ente federado."
Razões do veto
“O
texto viola o art. 165, § 2º, da Constituição, ao dispor sobre a
elaboração da lei orçamentária anual sem utilizar o instrumento jurídico
adequado, qual seja, a lei de diretrizes orçamentárias."
Essas,
Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos
acima mencionados do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada
apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.
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