O que é?
Sintomas e riscos associados
Como prevenir o suicídio?
Depressão e outras doenças: comorbidade Diagnóstico
Tratamento: dificuldades e variantes
O apoio dos familiares e amigos
O trabalho da Abrata de informação e apoio
Depressão: O que é?
Distinguir uma “reação normal de tristeza” da depressão não é uma tarefa fácil. A
tristeza é um sentimento universal, natural e fisiológico, que expressa dor ou sofrimento
e, ao contrário da depressão, não compromete significativamente as outras funções mentais e nem o funcionamento global do indivíduo. Trata-se de uma doença médica, como
outra qualquer, e que possui critérios específicos para seu diagnóstico. Seus sintomas já
foram relatados em textos bíblicos do Antigo Testamento, no qual o Rei Saul de Israel
teria cometido suicídio em um dos seus episódios de depressão. Os mesmos sintomas
foram descritos na Ilíada de Homero.
As alterações de humor são patológicas quando são respostas exageradas de estímulos
correspondentes ou fora do contexto cultural daquele indivíduo, o que acarreta, em ambos
os casos, prejuízos na esfera pessoal ou ambiental, promovendo danos econômicos, morais,
éticos e sociais, dentre outros.
O termo “depressão” deriva do latim “deprimire” e signifi ca pressionar para baixo. Signifi cado esse que denota o sentido do rebaixamento do humor como um sintoma fundamental para esse diagnóstico.
Segundo o texto revisado do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais,
4ª edição (DSM-IV-TR), da Associação Psiquiátrica Americana, a depressão maior pode manifestar-se como episódio de transtorno depressivo recorrente ou bipolar.
Para se fazer o diagnóstico de um episódio de depressão maior, segundo a classificação
americana, é necessário que os sintomas durem pelo menos 15 dias e apareçam na maior
parte dos dias e na maior parte do tempo, sendo que um deles deve ser, obrigatoriamente,
(1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
Algumas outras denominações são usadas para caracterizar melhor os subtipos de depressão. Há, por exemplo, a depressão com características melancólicas, na qual predominam a perda de prazer, a falta de reatividade a estímulos habitualmente agradáveis,
o despertar precoce matinal, a piora da depressão pela manhã, a culpa excessiva ou inadequada, a falta de apetite ou a perda de peso significativa; e a depressão com características
atípicas, em que o portador consegue reagir positivamente a estímulos bons, com aumento de apetite e peso, fadiga, aumento do sono, sensação de peso nas pernas ou braços
(paralisia de chumbo), e sentimentos excessivos de rejeição. A depressão pode ser sazonal,
marcada pelo aparecimento em uma época específica do ano, outono-inverno (sazonal de
inverno), primavera-verão (sazonal de verão) e pós-parto (ocorre após o parto). Ainda,
com base na quantidade e qualidade dos sintomas, a depressão pode ser classificada em
graus: leve, moderado ou grave.
A depressão pode se manifestar com muitos sintomas físicos e ser comum na população
idosa, o que, em algumas situações, pode dificultar o diagnóstico. Nesses casos, ela é
conhecida como depressão mascarada.
Quando a depressão se torna recorrente e o indivíduo nunca manifestara a mania ou a
hipomania, ela é denominadas “depressão unipolar”, que caracteriza o transtorno depressivo recorrente, como descrito anteriormente. Quando o indivíduo tem episódios de
depressão e também de mania, hipomania ou estado misto (quando estão presentes ao
mesmo tempo sintomas de depressão e euforia), o diagnóstico passa a ser de transtorno
de humor bipolar.
Sintomas e riscos associados
Nem todas as pessoas em depressão apresentam as mesmas manifestações, mas os sintomas mais comuns são:
• sensação persistente de tristeza, angústia e/ou vazio;
• desânimo e choro;
• desesperança e pessimismo;
• perda da capacidade de sentir prazer;
• inquietação, ansiedade ou irritabilidade;
• falta de sentido na vida;
• insegurança, medos e indecisões;
• baixa autoestima;
• diminuição da libido;
• perda ou aumento do apetite e do peso;
• insônia ou sonolência excessiva;
• dores crônicas ou sintomas físicos difusos e persistentes;
• preocupação com doenças;
• delírios e alucinações em casos graves;
• pensamentos sobre morte ou suicídio;
• plano ou tentativa de suicídio.
Os principais riscos associados à depressão são:
• a falta de reconhecimento do quadro como doença ou, ainda, quando identificada,
a dificuldade de buscar um auxílio profissional, devido aos próprios sintomas de simismo e desesperança, deixando a falsa impressão de que não há o que ser feito
para o alívio dos sintomas, tendo como consequência o agravamento deles;
• a busca incessante por explicações orgânicas para o mal-estar, desencadeando
uma sequência de consultas e exames complementares, muitas vezes invasivos,
e que não resultam em esclarecimento diagnóstico;
• o inverso também ocorre, que é a busca contínua de justificativas psicológicas e de
questões rotineiras para os sintomas depressivos, e a negação da possibilidade de os
sintomas terem uma origem orgânica;
• a ideia equivocada de que o suicídio seja a única saída para o problema e o aprofundamento desses pensamentos em planos estruturados, tentativas ou mesmo no
suicídio consumado.
Como prevenir o suicídio?
Nem todos os casos de suicídio podem ser prevenidos, entretanto a habilidade em lidar
com ele faz a diferença. Quando bem abordado e tratado evita-se a fatalidade por meio
de intervenções adequadas. Algumas circunstâncias sugerem maior intenção suicida e
revelam o desejo da pessoa. O funcionamento mental gira em torno de três sentimentos:
intolerável (não suportar), inescapável (sem saída) e interminável (sem fim).
Diversos fatores podem impedir a detecção e a prevenção do suicídio: o estigma e o
sigilo; a dificuldade em buscar ajuda; a falta de conhecimento e atenção sobre o suicídio
por parte dos profissionais de saúde. Pensar que ideias e comportamentos suicidas não são
eventos frequentes infelizmente é um engano. É uma urgência médica pelo risco de vida
que o ato pode acarretar ao indivíduo. Devem-se favorecer as estratégias de enfrentamento, os fatores de proteção (religiosidade, apoio familiar, profissional e social) e contar
com o auxílio de familiares, amigos e no ambiente de trabalho, aumentando a atenção
para sinais de mudanças de comportamento que possam sugerir um desânimo com a vida,
estimulando a pessoa suicida a procurar ajuda profissional. É necessário cuidado especial
com pessoas que apresentem sinais de desespero, ansiedade extrema e agitação, pois têm
maior risco iminente de suicídio. “Prevenir é melhor que remediar”.
Depressão e outras doenças: comorbidade
A depressão está associada a um aumento de risco para outras doenças, tanto mentais
como clínicas (físicas). Os estudos epidemiológicos no mundo mostram que em países
como o Brasil cerca 56% dos portadores de depressão apresentam outras doenças mentais,
um risco de 8,1 vezes maior que a população geral. As doenças mentais e o aumento de
risco em relação a população geral mais comuns associadas à depressão são os transtornos
ansiosos (por exemplo: transtorno de ansiedade generalizada, pânico, fobias e transtorno
obsessivo compulsivo) presentes em 38,9% (risco de 5,9 maior), seguidos de abuso de
substâncias 7,5% (risco de 3,5 maior), sendo que essas comorbidades são mais comuns
em portadores de depressão em portadores de menos de 50 anos.
A depressão também está associada a uma maior comorbidade com doenças físicas
(clínicas). Elas ocorrem em 72% dos casos. Podemos dizer que um portador deprimido
tem risco 2,6 vezes maior que a população geral de apresentar alguma doença clínica. Nesse
casos, os portadores deprimidos com mais de 50 anos são mais comuns. As doenças clínicas mais comuns e o aumento de risco em relação à população geral são: músculo-esqueléticas (43%; risco 2,2 vezes maior), cardiovasculares (22,4%; risco 1,4 vez maior), respiratórias (21,6%; risco 1,7 vez maior) e síndromes dolorosas (19,5%; risco de 2,2 vezes maior).
Ainda se deve lembrar de que toda vez que um portador apresenta comorbidade, o tratamento de ambas as doenças se torna mais difícil e, em muitos casos (especialmente
os portadores de doenças cardiovasculares), o risco de morte aumenta. Apesar de frequentes como visto anteriormente, o maior desafio ainda está em se fazer o diagnóstico da
depressão em doenças clínicas.
Diagnóstico
Na depressão, o portador sofre de rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade, além de diminuída capacidade para o prazer, interesse e concentração, e queixa de cansaço mesmo após o mínimo esforço. O sono pode estar alterado,
principalmente diminuído, com acordar precoce e com sensação ter não ter sido repousante. Observamos inibição geral das funções, lentidão, pobreza da fala e dos movimentos,
ombros caídos e andar com sacrifício, desleixo nos cuidados com a higiene pessoal, abandono de si próprio. A autoestima está quase sempre reduzida e, muitas vezes, com algumas
ideias de culpa ou inutilidade. O humor depressivo varia pouco de dia para dia, é indiferente às circunstâncias e pode ser acompanhado pelos chamados sintomas “somáticos”,
como a perda de interesse ou prazer, lentidão psicomotora pela manhã, agitação, perda de
apetite, perda de peso e perda da libido. O portador deprimido apresenta grande sofrimento, e suas vivências são suportadas como um grande peso e marcadas pelo pessimismo
(CID 10).
A depressão pode também afetar crianças e adolescentes, comprometendo e interferindo em seu processo de desenvolvimento psicológico e social. Na maioria das crianças,
os sintomas da depressão são atípicos, como, por exemplo, aumento da irritabilidade e do
sono.
Os diversos diagnósticos de quadros depressivos (transtorno depressivo recorrente,
distimia, ciclotimia, depressão bipolar e depressão em transtorno mental orgânico) são
médicos. Entretanto, outros profissionais de saúde e leigos esclarecidos podem suspeitar
do diagnóstico e solicitar uma confirmação diagnóstica pelo médico de qualquer especialidade que se sinta competente ou por um médico psiquiatra. Não existem exames
laboratoriais que possam dar um diagnóstico definitivo de depressão.
Tratamento: dificuldades e variantes
O tratamento da depressão deve ser norteado por um diagnóstico cuidadoso e que esteja sempre sujeito à reavaliação pelo psiquiatra. As depressões podem ter origens e tratamentos diferentes. Nem sempre é fácil fazer um diagnóstico preciso no início da ocorrência dos sintomas.
Algumas formas de depressão surgem espontaneamente e outras são consequência de
outras doenças ou do uso de diversas substâncias. Essa diferença é importante para o
tratamento, pois, no primeiro caso, é necessário o uso de antidepressivos e, no segundo,
pode não o ser, bastando, muitas vezes, o controle da doença de base ou a interrupção do
consumo da substância, seja ela um medicamento, álcool ou uma droga de abuso.
Quando a depressão ocorre sem a existência prévia de quadros de mania ou hipomania
e quando não há história de bipolaridade na família, a tendência é que o tratamento seja
feito primordialmente com antidepressivos, que podem ser de vários tipos. Às vezes, é
necessária a administração de tranquilizantes benzodiazepínicos, no início do tratamento,
quando há sintomas de ansiedade ou muita dificuldade para dormir. Se a depressão for
muito grave e a pessoa perder o contato com a realidade, pode ser necessário o uso associado de um antipsicótico, durante um período limitado de tempo. Normalmente, o
tratamento para um episódio depressivo, com antidepressivos, dura aproximadamente um ano e, depois, o medicamento é retirado de forma gradual. Se os episódios de depressão
se repetem ao longo da vida, tornando-se frequentes, mas não fazem parte do transtorno
bipolar, pode ser necessário o uso contínuo de antidepressivos, para evitar ou amenizar
novos episódios.
A depressão que faz parte do transtorno bipolar deve ser tratada de modo diferente. O
principal meio é pelo uso de um estabilizador do humor, como o lítio e o valproato de
sódio, entre outros; estes devem ser usados de modo contínuo. Os antidepressivos são
utilizados por períodos mais curtos, somente durante o tempo necessário para controle
dos sintomas.
Existem depressões que não respondem ao tratamento medicamentoso usual e são
chamadas de refratárias. Para elas, podem ser tentados tratamentos alternativos, como
combinações de medicamentos, eventualmente uso de certos hormônios, eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana e várias outras modalidades.
A psicoterapia é uma parte fundamental no tratamento da depressão, sendo indicada
tanto para os quadros leves, em que os antidepressivos podem não ter uma indicação
necessária, como nos quadros graves, junto da farmacoterapia. Existem várias linhas de
psicoterapia, sendo que a linha cognitivo-comportamental e a interpessoal são as que têm
mais estudos comprovando eficácia antidepressiva.
O apoio dos familiares e amigos
Familiares e amigos próximos precisam, primeiramente, entender o que é a depressão,
ou seja, seu caráter patológico. Além disso, precisam reconhecer a gravidade de suas consequências, pelas perdas que os sintomas depressivos causam, tanto prejudicando as relações familiares, sociais e profissionais, como induzindo a um cuidado pessoal precário e
ao risco de morte por suicídio. E, por fim, ajudar o portador a seguir as orientações
médicas e psicológicas.
Portanto, quando familiares e amigos percebem sinais de que a depressão está recomeçando, devem intervir junto ao médico ou psicólogo, para evitar o agravamento de
uma recaída e a interrupção do tratamento. Durante a crise depressiva, devem-se evitar
críticas e cobranças: as críticas apenas confirmam os pensamentos de falta de valor e de
inutilidade que os portadores já têm; e as cobranças aumentam o estresse do portador, pois
ele já não tem condições de realizar suas tarefas (já se cobra e não consegue), e a situação
só piora quando ele sente a cobrança vinda dos familiares. Para estimular o portador,
deve-se convidá-lo para atividades diversas, prazeirosas, porém sem cobrança excessiva,
pois acaba se tornando “mais uma cobrança” – mas não se deve deixar de convidá-lo para
atividades, pois se sentirá, ao menos, amparado. Palavras de conforto e que estimulam a
paciência são fundamentais, mesmo que sejam repetitivas, pois a principal mensagem é
emocional, e não racional.
Existem momentos em que a crise fica tão grave, que o risco de suicídio ou de autoagressão ou agressão aos outros fica evidente e, algumas vezes, a família e amigos não conseguem controlar a situação. Nesses casos, a internação hospitalar psiquiátrica pode ser
necessária, mesmo contra a vontade do portador, pois este pode estar com sua capacidade
de julgar a realidade afetada. A internação deve durar o mínimo de tempo possível para
tirar o portador da fase crítica, de risco de suicídio ou de agressividade.
Devem ser aproveitados os períodos de equilíbrio para diferenciar depressão da tristeza
dos problemas rotineiros do dia a dia. Nessas fases sem depressão, deve-se estimular a
ampliação contínua do conhecimento sobre a doença, para aprender a definir os sintomas
iniciais, que poderiam dar dicas do início de uma recaída, e estabelecer um estilo de vida
saudável, que respeite o ritmo biológico (hora certa de dormir, comer comidas saudáveis, manter atividades físicas e sexuais satisfatórias, ter uma ocupação gratificante e manter a
mente sempre produzindo).
(continua...:http://www.abrata.org.br/site2018/wp-content/uploads/2018/01/OS-2017-Manual-Paciente-Abrata-1-10-08-11.pdf)
Acesso: 10/07/2019
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