"O engodo da globalização, a doença do consumismo e
a RIO + 20
LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES – Desembargador
Nem bem se encerrou a Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável – a Rio +20 – e a mesma já desapareceu dos noticiários. No presente artigo, não farei qualquer colocação a respeito da citada Conferência que, segundo os críticos, não teve o resultado sonhado como almejado na primeira Conferência do Rio de Janeiro há 20 anos. Mas, gostaria de aproveitar o ensejo para fazer algumas considerações a respeito de consumo e da sociedade capitalista, que, para existir, utiliza-se de um modelo de exploração não só das reservas naturais do planeta, como de muitas das conquistas sociais existentes nos vários países que compõem o mundo, tais como garantia de emprego, limite de horas de trabalho, direito à aposentadoria com salário justo, direito à saúde gratuita, direito ao lazer etc.
Parece-me que o que precisa realmente ser feito, é
uma mudança nos hábitos de consumo, não só aqui como em outros lugares. Para se
ter uma ideia do que quero dizer, vejam esses dados (que variam um pouco de
acordo com a fonte, mas de todo modo indicam o problema). A produção e o
consumo dos Estados
Unidos da América (apesar da crise vivida por lá), com um número de
consumidores que correspondem a aproximadamente 5% da população do planeta,
contribuem com 36% das emissões de gases de efeito estufa e consomem 25% da
energia mundial. No que se refere aos países desenvolvidos, estes congregam um
quinto da população mundial. Esta minoria, porém, consome 80% de todos os
recursos naturais existentes. Logo, ao contrário do que se propaga, a
globalização é uma ilusão, pois não dá para “globalizar” o padrão de consumo
dos EUA e dos demais países desenvolvidos. Precisaríamos de vários planetas
para tanto.
Esses dados mostram que é preciso mudar o foco,
posto que, caso se perpetue o modelo de consumo dos dias que correm, não
haverá salvação. Ao invés de se produzir mais e se consumir mais, a diminuição
do consumo é que talvez pudesse ajudar a sustentar o planeta.
Além disso e atrelado a isso, um outro
elemento que talvez pudesse colaborar para que o planeta não viesse a ser
destruído seria o da educação para o consumo, de tal modo que os consumidores
pudessem tomar consciência de seu efetivo papel como protagonistas da sociedade
capitalista e também percebessem que o regime consumista no qual estão
inseridos não faz bem nem a seu bolso nem a sua saúde nem a seu bem-estar e,
claro, nem ao planeta.
Como quero apenas fazer algumas colocações para a
nossa reflexão, eu termino por aqui, deixando, na sequência, uma série de
máximas do comediante americano George Carlin e também algumas que eu mesmo
fiz, que dizem respeito ao modo de vida da sociedade em que vivemos.
De George
Carlin:
Se um homem sorri o tempo todo, ele provavelmente
está vendendo algo que não funciona.
Nós bebemos demais, gastamos sem critérios.
Dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito tarde, acordamos muito
cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e
raramente estamos com Deus.
Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos
valores.
Aprendemos a sobreviver, mas não a viver;
adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.
Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em
cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o
nosso próprio.
Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.
Aprendemos a nos apressar e não a esperar.
Construímos mais computadores para armazenar mais
informações, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos cada vez
menos.
Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.
Essa é a era de dois empregos, vários divórcios,
casas chiques e lares despedaçados.
Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.
Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.
Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco
na dispensa.
Acrescento:
Estamos na era das fusões de empresas e dos
desempregados em profusões.
Do acúmulo de cartões de crédito fácil e abundante
e das dívidas impagáveis.
Das dezenas de pares de sapatos nos armários de
casa e das crianças andando descalças nas ruas.
Nunca tivemos tanto acesso à informação, mas nosso
conhecimento é paupérrimo.
As pessoas sabem muito sobre automóveis, mas pouco
sobre arte.
Muitos consumidores tem noção dos preços das
cervejas, mas desconhecem o valor da solidariedade.
Tira-se foto de tudo, mas, realmente, não se
aprecia quase nada".
2/7/2012
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