quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Autor: ANTÔNIO ALBERTO MACHADO, membro do Ministério Público do Estado de São Paulo e professor livre-docente do curso de direito da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Franca-S

“O SENTIDO DA MORTE

Não há quem não pense na morte um dia sequer! Quem não tente compreendê-la e até mesmo explicá-la. No entanto, a morte não tem explicação nenhuma porque não tem sentido nenhum. Apenas as religiões (qualquer religião) poderão “arbitrar”, mas não compreender ou explicar, o sentido da morte. Aliás, dizia Hegel que a religião não é outra coisa senão “o homem se elevando da vida finita para a vida infinita”.
Mas, o problema é que a vida infinita está, obviamente, para além da morte, num plano metafísico, sobrenatural, inacessível à razão humana. Deve ser por isso que a morte sempre esteve cercada de mistério, crenças, crendices, aparições, assombrações e… medo. Mas a morte, em si, é o nada, é o “não ser”, portanto, não tem sentido nenhum, ao menos que pudesse ser alcançado pela razão e pelas especulações do homem. A morte é o vazio, é o vácuo, é o absurdo…
O máximo que se pode dizer a respeito da morte é que ela “suspende” a cotidianidade, paralisa a sucessão mecânica,  imperceptível e absurda do dia-a-dia. Por isso é que a morte sempre traz consigo a perplexidade e o susto, lançando subitamente o homem para além dela (no além), no incompreensível - esse terreno tão fértil e tão supersticioso das religiões.
Na verdade, segundo Sartre, não é apenas a morte que não tem sentido. O nascimento do homem também não tem sentido nenhum - a não ser para as religiões e suas ambições prometeicas. O filósofo francês dizia: “não faz sentido nascermos, não faz sentido morrermos”. O nascimento e a morte são apenas dois fatos da natureza, aliás, dois fatos biológicos submetidos à mesma força cega e incompreensível dos fatos naturais. Assim como não há nenhum sentido no fato natural de que a água corre necessariamente para o mar, não tem sentido nenhum o fato de nascermos ou morrermos. 
Antes do nascimento há apenas o “nada”, depois da morte, há o “nada” novamente. O que poderia ter algum sentido a que o homem pudesse legitimamente aspirar (e compreender) é tudo o que está (e que se passa) entre o nascimento e a morte, isto é, “entre o nada e o nada”. Logo, não se pode compreender nem o nascimento nem a morte, a especulação (filosófica, científica, religiosa) acerca deles é inútil, é vã, será sempre uma tentativa malograda. As únicas coisas que se podem realmente compreender são as ações e a ”finitude do homem”, que, diga-se, não são fatos meramente biológicos ou naturais, são “acontecimentos” históricos, morais, psicológicos, humanos, demasiado humanos. 
E é justamente a finitude do homem que impõe as reações pessoais (ou psicológicas) do medo, da angústia, do desespero. Mas é também essa mesma finitude que determina a urgência da vida, isto é, a necessidade (filosófica, moral, histórica, cultural etc.) de existir e construir um sentido para a existência humana.
Se podemos falar num sentido para a vida do homem, esse sentido está certamente na possibilidade que ele tem de projetar e de agir. O homem projeta, age e se projeta na direção do futuro, construindo a própria essência condicionada pela existência, justamente porque sabe da  sua própria finitude. Eis aí, na consciência da finitude, a fonte da vida autêntica, do agir consciente, do sentido da vida… e, paradoxalmente, do desespero do homem.
Mas, se a existência humana pode ter algum sentido, construído pelo próprio homem quando projeta e age, o mesmo não se pode dizer da condição humana, que está aprisionada estupidamente nesse breve e tumultuado interregno entre o nascer e o morrer, “entre o nada e o nada”. Eis aí, na dialética do ser e do nada, a fonte do incompreensível, do inexplicável, do trágico… e, aturalmente, do absurdo.
O mais absurdo, porém, é que nem os deuses conseguiriam resolver esses dilemas tipicamente existenciais dos homens. Pois parece que, com os deuses ou sem eles, o mundo e a condição humana continuarão sendo a mesma coisa (Sartre), isto é, algo incompreensível demais para a nossa vã filosofia, para as nossas imperfeições, para as nossas impotências… Com Deus ou sem Deus, diria agora Alberto Camus, o homem continua desamparado, entregue à própria sorte e podendo contar apenas consigo mesmo”.
 http://blogs.lemos.net/machado/. Acesso: 12/12/2012

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