terça-feira, 28 de janeiro de 2014

CRACOLÂNDIA

CRACOLÂNDIA

"Participantes do Braços Abertos reduzem uso de crack e tentam retomar laços com família

Venda de drogas volta para Rua Dino Bueno e, segundo PM, cheiro de crack estava entrando pelas janelas das escolas. Participantes do programa municipal são menos frequentes na aglomeração
por Gisele Brito, da RBA publicado 27/01/2014 19:02
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APU GOMES/FOLHAPRESS
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A prefeitura promete que a partir de agora irá cobrar mais empenho dos participantes
São Paulo – Três dias depois de receberem pela participação no programa Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, beneficiários admitiram hoje (27) à RBA que usaram parte do dinheiro recebido na sexta-feira para consumir crack. Eles relatam, no entanto, que que diminuíram o consumo e vêm promovendo tentativas de se reaproximar da família.
Pedro Máximo da Paixão ainda tinha R$ 20 essa manhã. “Para quem gastava R$ 100 em um dia com pedra, ainda ter vinte reais no bolso já é um avanço”, avalia. “Mandei R$ 50 para o meu filho em Bragança. Sei que ele não vai querer, mas mandei. Os outros R$ 50 eu comprei pedra.”
No começo da tarde, ele tentava encontrar crack de boa qualidade no "fluxo", a concentração de usuários e traficantes, sem sucesso. “Só tem vapor vendendo. Aí eles pegam uma pedra grande, dividem e revendem. Mas é uma droga sem qualidade. Se comprar aí, não tem dinheiro que dê conta”, ponderava.
Outros dependentes que estão sendo acompanhados pela RBA desde o começo do projeto também admitem que compraram crack, mas menos do que o que consumiam antes do início do trabalho, no dia 16.
A participante Vanda diz ter visitado os filhos que estão sob os cuidados da mãe, comprado produtos de higiene pessoal, pago dívidas e adquirido drogas. Logo depois do final do expediente na varrição de ruas, ela procurava crack. “A boca está falida”, afirmava. “É muito difícil parar, você diminui, dá um tempo. Mas parar, mesmo, é complicado.” Ela conta que já chegou a usar 30 pedras em um único dia logo depois de perder a guarda dos filhos e ficar nove dias acordada, sem comer. “Só dormi porque meus olhos não aguentaram.”
O rapper Kawex comprou um brinquedo de R$ 75 para o neto. “Ele me perguntou se Papai Noel existia. Eu expliquei que não, mas comprei o presente”, afirma.
Na sexta, todos os participantes receberam R$ 120 pela participação no programa, independente de sua assiduidade ao trabalho de varrição ou às aulas de qualificação, o que irritou alguns deles. “Eu peguei o dinheiro e rasguei. Você fica no sol e o cara que não fez nada ganha do mesmo jeito”, conta Adílson. Ainda assim ele vestiu o uniforme e participou das atividades de hoje. “Eles falaram que vão rever isso aí, estou esperando.” Essa semana, a prefeitura deve ser mais rígida e pagar conforme o comprometimento dos usuários.
Ana Lúcia conseguiu se manter sem a droga, diferente de seu companheiro, mas deixou seu dinheiro sob os cuidados de uma amiga. “Eu vou juntar”, afirmou. Nessa manhã ela não foi trabalhar porque estava sofrendo com uma crise respiratória. “Eu só tenho um pulmão. As equipes de saúde daqui me dão apoio, me levam no hospital quando eu peço. Mas lá eles me dão inalação e me mandam eu de volta”, conta.
Outros usuários relataram problemas de saúde, como dores nas costas ou na vesícula. Eles dizem que receberam a orientação das equipes de saúde de irem a hospitais, mas preferiram se automedicar.

Fluxo

Em função do início do ano letivo, a Polícia Militar posicionou carros na rua Barão de Piracicaba onde há três escolas para que o fluxo, que hoje concentrava cerca de 70 usuários, mudasse de lugar. “O cheiro de crack estava entrando na janela da escola”, afirmou o Tenente William Thomaz, responsável pela base da Polícia Militar instalada na semana passada para atuar em parceria com o projeto.
A medida foi consentida pelos usuários, que voltaram para a Rua Dino Bueno, onde se concentravam antes do começo da operação. A mudança repentina chegou a alardear os integrantes da Guarda Civil Metropolitana, que começaram a montar um cerco para evitar o fechamento da via. Depois de conversarem com Ronaldo, o “disciplina” da rua, o responsável pela ordem do fluxo, eles voltaram ao posicionamento rotineiro.
Segundo Ronaldo, os usuários já sabiam que teriam de deixar a Rua Barão de Piracicaba e a mudança foi tranquila. Ele acredita, no entanto, que, para garantir que a rua não seja fechada, a prefeitura deveria reservar um lugar para que os usuários usem a droga. “Quando vem um carro eu grito, eles abrem caminho. Mas podiam colocar eles em um desses terrenos baldios aí”, argumenta. Segundo ele, o fluxo diminuiu desde o começo da operação porque os usuários que aderiram compram a droga e vão consumi-la nos hotéis".
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/01/participantes-do-bracos-abertos-admitem-uso-de-droga-mas-afirmam-que-consumo-diminuiu-6600.html. Acesso: 28/1/2014

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