"Jovens querem mais segurança e lazer no aniversário de 460 anos de São Paulo
Em meio ao debate do rolezinho, o que os adolescentes procuram na maior cidade do Brasil são locais seguros e públicos para se divertir. Cinco jovens de regiões extremas da capital paulista discutem trânsito, Copa do Mundo e diversidade
A cidade de São Paulo completa 460 anos neste sábado (25) em um momento muito particular de sua história, em que os jovens estão ficando cada vez mais conscientes de seu papel na sociedade. Prova disso foram os acontecimentos de 2013: os protestos que tomaram a Avenida Paulista, as demandas por mais espaços culturais na metrópole e a ocupação da cidade pelos jovens, desde os skatistas da Praça Roosevelt aos esportistas de fim de semana do Minhocão.
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Para entender o que o jovem busca em São Paulo, o iG Jovem reuniu cinco paulistanos de 15 a 19 anos, moradores de diferentes regiões do município, para discutir os encantos e os problemas da cidade. Todos são unânimes em duas coisas: amam São Paulo, mas consideram a segurança pública o maior problema da megalópole.
É o que apontam Natália Kishimoto, 18; Pedro Mietto, 16; Matheus Rodrigues, 15; Amanda Maiorquim, 19; e Bruno Leão, 17. Matheus, morador de Itaquera, na Zona Leste de SP, admite não se sentir seguro nem no próprio bairro. “Você não pode mais andar tranquilo na rua”, afirma o estudante.
Mas a violência não é um problema específico da região leste da cidade. “Eu já sofri uma tentativa de assalto entrando em casa com a minha mãe. Até hoje ela é neurótica com essas coisas”, conta Natália, moradora de Interlagos, no sul de São Paulo. Bruno, seu namorado, foi roubado na mesma região. “Moro a duas quadras de uma delegacia e já fui assaltado na rua de casa”, relata.
Pior que o trânsito
Amanda, moradora da Lapa, acha a falta de segurança mais grave do que o trânsito caótico da cidade. “O trânsito você até aguenta, mas a violência não”, compara. Pedro, morador de Pirituba, na Zona Oeste, acredita que o policiamento é uma das ferramentas para combater a criminalidade. “Se for um policiamento bem firme, só a polícia já resolve”, acredita. Amanda concorda. “Às vezes eu ando à noite em um lugar e percebo que não tem nenhum policial por perto. Acho que deveriam aumentar o número de policiais nos lugares”, diz.
Além de incômoda, a sensação de insegurança atrapalha o lazer dos jovens. “Às vezes a gente quer ir para a Augusta à noite, fazer alguma coisa diferente, e fica complicado porque é perigosíssimo”, afirma Amanda, que tem o Viaduto do Chá como seu lugar preferido na cidade.
Outra queixa dos cinco jovens é a escassez de opções de lazer na cidade. “Até tem coisas para fazer, como teatros e cinemas, mas falta divulgação”, reclama Amanda. Para Pedro, que gosta de ir a shoppings e andar de skate no Parque Villa-Lobos, SP poderia oferecer mais alternativas de lazer. “Em alguns lugares, poderiam muito bem construir algo legal. Em Pirituba tem um parque fechado há mais de 7 anos”, diz.
Matheus acredita que a falta de lugares de convivência e lazer é a principal carência de seu bairro. “Eu gostaria de mais parques e shoppings em Itaquera”, admite o estudante, cujo lugar preferido na cidade é uma quadra de futebol perto de sua casa.
Já para Bruno, Interlagos é uma região bem servida de opções de lazer. “Tem a represa [de Guarapiranga], onde dá pra fazer stand up paddle, tem outras opções. É um bairro bem servido”, conta Bruno. Natália não concorda com o namorado. “Eu gosto mais de ir para a Augusta, então para mim o bairro não tem tantas opções legais”, diz.
Opiniões opostas sobre o tal rolezinho
A falta de opções de lazer e centros de convivência se relaciona intimamente com um fenômeno que virou pauta nas últimas semanas: o rolezinho. “Sou contra o rolezinho. No último, passei perto de onde o pessoal se encontrou e vi um monte de gente sendo roubada”, conta Matheus.
Em contrapartida, Amanda se diz a favor do encontro de jovens. “Eu não sou contra as pessoas se reunirem em grupos para fazer passeios. Mas acho chato quem só vai para arrumar confusão”, afirma.
Por mais ônibus e linhas
Outro grave problema apontado pelo grupo é o transporte público. “A situação é decadente”, lamenta Amanda. Para ela, aumentar o número de ônibus e linhas já melhoraria muito a situação. “Só tem um ônibus que passa perto da minha casa e vai para o centro, e ele demora muito ou sempre está lotado”, diz. A tarifa também é outro problema. “Pelo serviço oferecido, é muito caro”, afirma Pedro sobre o preço da passagem, atualmente custando R$ 3,00.
Apesar dos esforços da prefeitura para melhorar os serviços de transporte, criando corredores de ônibus e novas linhas, a situação continua a mesma. “Essas melhorias não chegaram à minha região”, diz Amanda.
Entretanto, eles acreditam que alguns problemas podem ser amenizados na época da Copa do Mundo. “Quando tem corrida em Interlagos o bairro fica uma maravilha, todos os buracos são tapados, tem polícia na rua, você pode dormir com o portão de casa aberto. Quando passa a época da corrida, todas as melhorias também vão embora”, afirma Bruno, vizinho do Autódromo de Interlagos.
Nenhum dos cinco jovens é a favor da Copa do Mundo. “Eu acho que tem coisas mais importantes para fazer com o dinheiro do que um evento assim, que vai durar um mês e só vai trazer uma ou outra melhoria”, diz Pedro.
"Depois da Copa vai piorar"
Para Matheus, morador da região da Arena Corinthians, a sede paulista do Mundial, a Copa é um mau negócio. “Eles vão deixar de investir na educação para investir nisso”, afirma. A cinco meses da abertura do campeonato, marcada para acontecer em São Paulo, o estudante não vê muitas mudanças no bairro. “Estão fazendo algumas mudanças nos arredores do estádio, mas a vida das pessoas continua na mesma. E depois da Copa vai piorar, o governo vai largar a região”, acredita.
Segundo os cinco jovens, um dos pontos mais positivos da cidade de São Paulo é a diversidade. “Aqui tem todos os tipos de lugares e sempre tem algo para fazer. Tem vários lugares para ir, várias opções”, diz Natália.
Diversidade e preconceito
A diversidade entre os cerca de 11,5 milhões de habitantes também é ponto positivo para a cidade na visão dos adolescentes, mas eles reconhecem que existe muito preconceito. “Eu não sofro preconceito, mas sempre vejo”, conta Natália. Já Amanda sofre isso na pele. “Sofri preconceito na rua, as pessoas chamando e zoando. Se você for diferente, sempre vai ter um para falar alguma coisa”, conta a jovem, que costuma frequentar piqueniques vitorianos e se vestir com roupas de época.
Mas a diversidade da cidade pode ser uma arma contra o preconceito. “As pessoas têm um modelo de cidadão perfeito na cabeça e quando alguém não se enquadra elas ficam chocadas”, acredita Pedro.
Apesar de todos os problemas, os jovens concordam que São Paulo pode se tornar uma cidade ideal. “Se resolverem os problemas de transporte, saúde e segurança, a cidade fica perfeita para mim”, diz Pedro, fã do ritmo frenético da capital. “Melhorando o lazer também ficaria ótimo”, acrescenta. “A cidade tem tudo, só falta lapidar para melhorar”, acredita Bruno, enquanto Natália aposta na gentileza para melhorar as relações entre os moradores da metrópole.
São Paulo ainda não é a cidade ideal, mas, para o grupo, é difícil trocar a capital por outro lugar. “São Paulo é uma casa. Nenhuma casa consegue ser normal, tem sempre uma bagunça, mas eu sempre morei aqui e gosto daqui”, diz Pedro".
http://jovem.ig.com.br/cultura/mix/2014-01-25/jovens-querem-mais-seguranca-e-lazer-no-aniversario-de-460-anos-de-sao-paulo.html. Acesso: 25/1/2014
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