terça-feira, 29 de outubro de 2013

Devo fazer um concurso sem estudar?

“Devo fazer um concurso sem estudar?
Por que muita gente ainda participa de um concurso público sem ter se preparado previamente? Saiba o que há de tolerável e o que há de abominável nessa "prática".
Enviar por e-mail • Publicado em 24/03/2013 - 23h06 • Atualizado em 08/07/2013 - 23h26
"Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu"
Francisco Octaviano
Pergunte a alguns colegas seus (ou gente até minimamente antenada na seara dos concursos) quantos já participaram de um certame sem ter estudado (disse "participaram" e não "passaram", porque são pontos de vista muito diferentes). Garanto que a resposta em nada vai lhe espantar, porque não é raro o fenômeno. Vou tocar talvez em um assunto delicado, justamente porque parece que é algo que vai "contra a corrente atual" e certamente se seguirão comentários carregados de reprovação. Hoje prega-se um mantra que possui ares de "sequência lógica", no qual é dito que uma aprovação virá sempre quando precedida de uma vida longa de dedicação aos estudos. Não seria ingênuo ao ponto de desconsiderar o valor de tudo isso, mas sempre existem ponderações a serem ditas.
Claro que esta máxima é absolutamente verdadeira! Eu sou prova de que ela funciona na minha própria vida, a cada vez que estudo para obter uma aprovação, seja ela em prova de uma formação (de qualquer nível), seja numa prova para um concurso almejado. Também sei que você, concurseiro, é a prova cabal de que tal abordagem funciona. Quando se luta seriamente por um objetivo, é fato que ele será alcançado. Pelo menos é assim para a maioria das coisas conquistáveis da vida. Se fôssemos para o campo da religião, diríamos que até Deus tende a abençoar uma pessoa esforçada, até mesmo se ela não tiver crença NEle (Ele sabe quem crê). Deus é a favor dos corajosos e se existem pessoas cientes de que o benefício só vem depois de uma fase de luta, de esforço, é inevitável que em algum momento não aconteça o milagre. Se fôssemos para o campo da auto-ajuda de todos os dias, a "sequência lógica" - ou a "programação neurolinguística" - seria verdadeira da mesma forma. Repito: não seria insensato ao ponto de questionar a dica dos experientes mestres. Também não estou pregando o desleixo! Mas também não seria hipócrita de negar que, tomando como exemplo a área dos concursos, alguns poucos felizardos já alcançaram aprovações, mesmo sem ter encarado os estudos dessa forma metódica e disciplinada que hoje virou tendência. Não digo que tal fenômeno é pior ou melhor, bom ou mal, negativo ou positivo. Digo apenas que esses casos existem, agora, se são raros, isso é outro problema.
Existe um ditado que ensina: "um é pouco, dois é bom, três é demais". Esse adágio se encaixa perfeitamente no tipo de assunto de que estou tratando. Ou seja, fazer concurso uma ou duas vezes sem ter se preparado a contento pode até ser tolerável/aceitável. Mas passar para a terceira tentativa e assim por diante, sem tomar para si o compromisso de se preparar de verdade, aí já é demais!
Participar de um concurso sem ter estudado não é para todo tipo de concurseiro
Na verdade, não existe uma vantagem objetiva e direta em se participar de um concurso público sem estudar. O que existe é a capacidade humana de poder bancar uma empreitada sem se sentir culpado depois, independente do resultado da prova. Tal capacidade, contudo, pertence a um determinado tipo de concurseiro...
Explicando um pouco mais: as vantagens dessa participação só podem ser sentidas por determinados grupos de concurseiros: aqueles que já estão empregados, seja na área pública ou privada; aqueles que são financiados por alguém que não cobre resultados evidentes; ou mesmo aqueles que passam a vida em branca nuvem, sem nada cobrar de si mesmos - o que, por si só, é algo abominável.
Essa categoria de gente é a que vai dispor dos recursos financeiros e logísticos relativamente "sobrando" para esse tipo de "investimento no escuro" em concursos públicos. São, portanto, pessoas que se encaixam no perfil do "concurseiro despreocupado", posto que não serão afetadas pelo incômodo de ter participado de um certame simplesmente para "ver no que ia dar", sem compromissos.
Ou seja, para essas pessoas participar do concurso vai se configurar somente como um ganho de experiência (por mais que tenham dispendido algum dinheiro ou tempo), sem contar que ainda existe a "vantagem" de não precisar se lamentar de coisa alguma, se algo der errado lá na frente, se a aprovação tentada, de fato, não vier. Para contrabalançar, existe uma outra vantagem: imagine se o "concurseiro despreocupado" chega bem perto de uma classificação relevante, da qual muitos que estudaram bastante passaram bem longe? Imagine se ele "bate na trave"? Em resumo, é a vantagem de se confiar no acaso...
Mas não confundir despreocupação com espírito de perdedor
Por outro lado, e sem querer fazer apologia da despreocupação, é preciso que lembremos que "concurseiro despreocupado" não quer dizer sempre "concurseiro derrotado". Ou você acha que esses abnegados vão para o campo de batalha com espírito de perdedor, por mais que não tenham treinado para o embate final, no front da sala de aula?
Ademais, você acha que todo cargo público hoje ocupado via concurso público está sendo ocupado por uma pessoa que "se matou de estudar"? Se tinha essa ilusão, reveja seus conceitos. Nem todo cargo público exige a mesma determinação para os estudos que alguns cargos, hoje considerados "de elite" (auditores, policiais federais, magistrados, etc), exigem. Existe gente, por exemplo, que vai participar de um concurso para um cargo específico sem dedicar uma hora do dia aos estudos do programa específico do edital, simplesmente porque já vem de uma trajetória de estudos mais ou menos condizente com aquele programa, ainda que não sejam exatamente os mesmos conteúdos. É o caso de pessoas que estão cursando licenciaturas e planejam participar de concursos para o magistério, ou o caso de pessoas com formação na área da saúde, do direito ou da administração que estão pretendendo participar de concursos para cargos específicos, cujas provas não são consideradas como "bichos de sete cabeças", ainda que as táticas das bancas selecionadoras tenha avançado. Não estou generalizando, mas apenas dizendo que existem casos e casos a serem considerados... Estudar sempre será o melhor caminho, mas não podem ser relegadas a segundo plano as bagagens intelectuais de muitos candidatos, até mesmo aquelas construídas ao longo de suas experiências de preparações para concursos anteriores.
Devo participar de um concurso sem ter estudado?
Deixei a resposta principal para o final, a fim de concluir estas considerações sem dar esperanças aos concurseiros que estão, além de despreocupados, talvez pensando em se tornar até relaxados por toda a vida. Sim, porque a qualquer momento vai ser preciso enfrentar algum tipo de embate, seja pessoal, seja profissional. Repito: relevar uma prática errônea/errante por uma ou duas vezes pode até ser "bacana", mas será que a gente vai poder fugir das seleções (provas) da vida durante toda a existência? Não aprendi a conceber a vida sem algum tipo de enfrentamento da realidade. Para mim, a felicidade passa sempre por essa questão.
Quer participar de um concurso do momento sem ter estudado? Fique à vontade para se inscrever, pelas razões/circunstâncias que apontei antes ou pelos motivos que você já tiver formulado. Mas não aja como se isso fosse algo a ser sempre repetido. Não viva dando desculpas para não fazer aquilo que deva feito da maneira mais correta possível, considerando as suas próprias singularidades”.


Acesso: 29/10/2013

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