quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Por Nelson Oscar de Souza, desembargador aposentado do TJRS

“Por Nelson Oscar de Souza, desembargador aposentado do TJRS
A gangorra dos modismos funciona sem parar neste país. Não é de hoje. No momento, a mídia tem dado 'status' de excelência à palavra estadista. Cismo com o seu conceito. Aparece em revistas e jornais, continuamente. Políticos, professores, cronistas até o David Coimbra, seção de esportes, referiu-se a Getúlio Vargas como estadista. E, um dia desses, outro jornalista utilizou o termo três vezes em matéria sobre aquele político.
Ora, repete-se que a diferença entre o estadista e o político comum é a de que o primeiro planta visando às futuras gerações e o outro só pensa na próxima eleição.
Bem, já por aí se teria um critério para excluir o Iluminado de Garanhuns da categoria de estadista.
Mas, então? Como fazer e pensar, tratando-se de um leigo dirigindo-se a outros, os leitores? Escrevo para propiciar a reflexão e resposta dos doutos.
O presidente do STF dissera, há algum tempo: O STF não precisa de tributaristas ou de criminalistas. Precisa de estadistas". Bem, com este critério já excluo mais um nome o de Dias Tóffoli. A assertiva do ministro Joaquim Barbosa veio a propósito da demora da Presidente em indicar nome para vaga então existente na Corte.
Registro: Norberto Bobbio, até a 5ª. edição de seu Dicionário de Política, 2000, não menciona a perigosa palavra! Mas Joaquim Nabuco e Afonso Arinos de Mello Franco intitularam as suas obras maiores de" Um Estadista do Império "e Um Estadista da República".
Há pouco, no opúsculo Cartas a um Jovem Político, Fernando Henrique Cardoso destacou dois nomes como passíveis de serem vistos como estadistas: Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt. (...aquele que, uma vez convencido do pleno acerto de uma decisão importante, só aceita uma atitude de si mesmo: tomar essa decisão".)
Ora, dizem dois dos principais biógrafos de Adolf Hitler que Se em fins de 1938 Hitler tivesse sido vitimado por um acidente, poucos hesitariam de considerá-lo um dos grandes estadistas alemães...Porque, já a partir de 1938, ninguém deixou atrás de si tamanho rastro de ruínas acrescento: ruínas políticas, éticas, sociais!
Getúlio Vargas introduziu a legislação trabalhista e construiu Volta Redonda, modernizando o Brasil. No entanto, atropelou, durante sete anos, e em escala bem superior aos do sistema 1964/1978, os direitos humanos daqueles que se lhe opunham. Mesmo assim continua cultuado.
Texto encerrado, lembro coluna de Paulo Sant'Ana que completa o meu pensamento:Getúlio Vargas é considerado o maior estadista brasileiro. Ninguém se lembra que tinha uma polícia política chefiada pelo gorila Felinto Muller, que arrancava as unhas dos presos políticos nas masmorras da ditadura. Apesar dessas torturas bárbaras que infligia aos inimigos do regime, Getúlio Vargas só é lembrado hoje pela instituição dos direitos trabalhistas, pela criação da Petrobrás e de Volta Redonda.
Como então definir estadista? Quais os critérios? Ética não se insere como conceito fundamental ao tema?
Coloco o problema. Não intento polemizar”.
Acesso: 30/10/2013


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