*” Venezuela: “Socialismo do Século XXI” é
rejeitado pela metade da população do País.
Apresentamos
aos leitores um artigo de Luis Ugalde, ex-reitor da Universidade Católica
Andres Bello, da Venezuela, e ex-superior provincial jesuíta no país caribenho.
O artigo foi publicado no jornal El Nacional e aborda o
resultado das recentes eleições venezuelanas.
*****
Ficou
evidente que bem mais da metade dos venezuelanos não está de acordo com a
proposta governamental estatista-partidarista. Em eleições sem coação, sem medo
e sem uso abusivo do poder do Estado, e com um árbitro medianamente neutro, a vantagem da opção democrático-plural seria
de vários milhões de votos. Esta
é a realidade que o governo e todos nós temos que reconhecer como ponto de
partida para aplicar os remédios indispensáveis para curar este país doente.
Alguns
pontos decisivos:
1
– Pobreza e economia. O país está
atolado em níveis alarmantes de déficit fiscal, endividamento, inflação,
importações desmesuradas e exportações não petrolíferas raquíticas; escassez de
produtos básicos, fuga de capitais e de talentos. Estatizações improdutivas e
em quebra, e empresas privadas acossadas e sentenciadas à morte pelo socialismo
do século XXI. Isso torna impossível superar a pobreza, porque, sem uma forte
dinâmica empresarial e vultosos investimentos, não crescerá o emprego produtivo
de qualidade crescente.
O
regime levou a economia a uma equação econômica insolúvel. O mais acertado para
o governo e para o país seria a via do Brasil, o que, no campo econômico,
significa abrir as portas com garantias jurídicas para o investimento privado
produtivo (não para capitais meramente especulativos), estimulá-lo e exigi-lo. Mas
isto não será aceito: para a ideologia deste governo, a empresa privada é o
demônio e a propriedade dos meios produtivos é a origem e a causa de todo mal.
2
– Abertura, transparência e eficiência dos programas sociais. A ineficiência governamental, a corrupção e o sectarismo partidarista
castraram as iniciais boas intenções dos programas sociais e das missões. É
preciso tornar claro aquilo que o sectarismo partidarista, a propaganda e a
ideologia tentaram pobremente disfarçar.
Nos
programas mais necessários e significativos, de educação, saúde, segurança
social, não é difícil aumentar a eficiência, a transparência e o universalismo
(não o partidarismo), focando na conquista de direitos consagrados na
constituição.
3
– Democratização política.
O país requer sinais democráticos claros e imediatos: a libertação de exilados
e presos políticos; o abuso do Executivo central tem que ser imediatamente
freado com a independência e com o contrapeso dos outros poderes públicos, com
uma sociedade civil ativa e com a autonomia dos poderes regionais e locais, bem
como com a colaboração eficaz do poder central.
As
Forças Armadas também têm de voltar, partindo de dentro de si mesmas, com o
apoio da sociedade e do governo, para o seu lugar perdido, importantíssimo, que
é reconhecido pela constituição e reclamado pela sociedade.
4 - Reconciliação
nacional com acordos sérios e sustentados
em temas básicos, que só darão certo com grandes consensos e colaboração. Não é
possível continuar mais seis anos assim, nem podemos nos resignar nem desejar o
fracasso (quase inevitável) do governo que nasce. É necessário um grande ânimo
espiritual de renovação, de reconciliação e de esforço esperançado, com fatos e
políticas concretas. A violência é uma terrível doença que, como o câncer, vai
invadindo tudo. Semearam ódio, desqualificação e agressividade nos corações.
São muitas as políticas necessárias de educação, de trabalho juvenil e de
dissuasão da violência, mas nenhuma como o reconhecimento, de coração, da nossa
condição de irmãos, que torna a vida sagrada.
Reconhecimento
não apenas para não nos matarmos, mas para conseguirmos, juntos, levar a vida
para onde há morte e miséria.
5
– Presidente educador
O
novo presidente deveria acima de tudo ser um educador, um reeducador político
em tempo integral, com a dignidade dos mais pobres em foco e com a constituição
na mão.
Esta
esperança não é um delito nem uma fantasia: é uma realidade de vida ou morte
para o governo que começa hoje.
É
obvio que ele e a sua ala estalinista estão
obcecados ideologicamente e consideram tudo isto como uma rendição ao inimigo
antirrevolucionário e à “direita imperialista“. Mas não fazê-lo o levará a um suicídio político mais cedo que tarde.
Por isso, todos os democratas, com Capriles e a maioria esperançada, devem
continuar unidos e ativos pela vida do país”.
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