terça-feira, 23 de julho de 2013

Venezuela: “Socialismo do Século XXI” é rejeitado pela metade da população do País.

*” Venezuela: “Socialismo do Século XXI” é rejeitado pela metade da população do País.

Apresentamos aos leitores um artigo de Luis Ugalde, ex-reitor da Universidade Católica Andres Bello, da Venezuela, e ex-superior provincial jesuíta no país caribenho. O artigo foi publicado no jornal El Nacional e aborda o resultado das recentes eleições venezuelanas.
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Ficou evidente que bem mais da metade dos venezuelanos não está de acordo com a proposta governamental estatista-partidarista. Em eleições sem coação, sem medo e sem uso abusivo do poder do Estado, e com um árbitro medianamente neutro, a vantagem da opção democrático-plural seria de vários milhões de votos. Esta é a realidade que o governo e todos nós temos que reconhecer como ponto de partida para aplicar os remédios indispensáveis para curar este país doente.
Alguns pontos decisivos:
1 – Pobreza e economia. O país está atolado em níveis alarmantes de déficit fiscal, endividamento, inflação, importações desmesuradas e exportações não petrolíferas raquíticas; escassez de produtos básicos, fuga de capitais e de talentos. Estatizações improdutivas e em quebra, e empresas privadas acossadas e sentenciadas à morte pelo socialismo do século XXI. Isso torna impossível superar a pobreza, porque, sem uma forte dinâmica empresarial e vultosos investimentos, não crescerá o emprego produtivo de qualidade crescente.
O regime levou a economia a uma equação econômica insolúvel. O mais acertado para o governo e para o país seria a via do Brasil, o que, no campo econômico, significa abrir as portas com garantias jurídicas para o investimento privado produtivo (não para capitais meramente especulativos), estimulá-lo e exigi-lo. Mas isto não será aceito: para a ideologia deste governo, a empresa privada é o demônio e a propriedade dos meios produtivos é a origem e a causa de todo mal.
2 – Abertura, transparência e eficiência dos programas sociais. A ineficiência governamental, a corrupção e o sectarismo partidarista castraram as iniciais boas intenções dos programas sociais e das missões. É preciso tornar claro aquilo que o sectarismo partidarista, a propaganda e a ideologia tentaram pobremente disfarçar.
Nos programas mais necessários e significativos, de educação, saúde, segurança social, não é difícil aumentar a eficiência, a transparência e o universalismo (não o partidarismo), focando na conquista de direitos consagrados na constituição.
3 – Democratização política. O país requer sinais democráticos claros e imediatos: a libertação de exilados e presos políticos; o abuso do Executivo central tem que ser imediatamente freado com a independência e com o contrapeso dos outros poderes públicos, com uma sociedade civil ativa e com a autonomia dos poderes regionais e locais, bem como com a colaboração eficaz do poder central.
As Forças Armadas também têm de voltar, partindo de dentro de si mesmas, com o apoio da sociedade e do governo, para o seu lugar perdido, importantíssimo, que é reconhecido pela constituição e reclamado pela sociedade.
4 - Reconciliação nacional com acordos sérios e sustentados em temas básicos, que só darão certo com grandes consensos e colaboração. Não é possível continuar mais seis anos assim, nem podemos nos resignar nem desejar o fracasso (quase inevitável) do governo que nasce. É necessário um grande ânimo espiritual de renovação, de reconciliação e de esforço esperançado, com fatos e políticas concretas. A violência é uma terrível doença que, como o câncer, vai invadindo tudo. Semearam ódio, desqualificação e agressividade nos corações. São muitas as políticas necessárias de educação, de trabalho juvenil e de dissuasão da violência, mas nenhuma como o reconhecimento, de coração, da nossa condição de irmãos, que torna a vida sagrada.
Reconhecimento não apenas para não nos matarmos, mas para conseguirmos, juntos, levar a vida para onde há morte e miséria.
5 – Presidente educador
O novo presidente deveria acima de tudo ser um educador, um reeducador político em tempo integral, com a dignidade dos mais pobres em foco e com a constituição na mão.
Esta esperança não é um delito nem uma fantasia: é uma realidade de vida ou morte para o governo que começa hoje.
É obvio que ele e a sua ala estalinista estão obcecados ideologicamente e consideram tudo isto como uma rendição ao inimigo antirrevolucionário e à “direita imperialista“. Mas não fazê-lo o levará a um suicídio político mais cedo que tarde. Por isso, todos os democratas, com Capriles e a maioria esperançada, devem continuar unidos e ativos pela vida do país”.

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