CONCEPÇÃO DO
JUIZ, SEGUNDO PIERO CALAMANDREI
“ Um velho
magistrado, sentindo-se morrer, pregava serenamente em seu leito:
- Senhor,
gostaria de morrer de estar seguro de que todos os homens por mim condenados
morreram antes de mim Porque não posso pensar em deixar nas prisões deste
mundo, sofrendo penas humanas, aqueles que foram encarcerados por ordem minha.
Gostaria, Senhor, quando me apresentar a teu juízo, de encontrá-los em espírito
à tua porta, para me dizerem que sabem que os julguei segundo a justiça,
segundo aquilo que os homens chamam de justiça; e, se com algum deles fui
injusto sem perceber, a este mais que os outros gostaria de encontrá-lo lá, ao
meu lado , para lhe pedir perdão e para dizer-lhe que, ao julgar, nunca me
aqueci de que eu era uma pobre criatura humana, escrava do erro; que, ao
condenar, nunca pude reprimir a perturbação da consciência, tremendo diante de
um ofício que, em última instância, só pode ser teu, Senhor”. ( Calamandrei,
Piero, “in” Eles os Juízes, vistos por um Advogado, Ed. Saraiva, Martin Fontes
1995, tradução: Eduardo Brandão,p. 357)
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