“Turquia: “Estou num país
onde um homem tem o direito de mandar espancar”
De sábado para domingo, a Turquia viveu uma noite de repressão da polícia
sobre milhares de manifestantes. Publicamos aqui o testemunho que Pedro Feijó
escreveu de Istambul na sua página no facebook: “Por favor divulguem tudo o que
puderem sobre a resistência na Turquia”. “Estou num país onde um homem tem o
direito de mandar espancar brutalmente milhares de cidadãs só porque ocuparam
um parque.”
ARTIGO | 16 JUNHO, 2013 - 15:07
"São seis da
manhã cá e acabo de chegar a casa. Foi uma das noites mais inacreditáveis da
minha vida e tenho um favor a pedir-vos: por favor divulguem tudo o que puderem
sobre a resistência na Turquia. Hoje fui expulso de um parque com uma carga policial.
Hoje fui empurrado para um hotel com dezenas de feridos. Hoje fui fechado em
salas com gás lacrimogéneo por todo o lado, sem conseguir abrir os olhos de
tanto arder,sem conseguir respirar. Hoje levei com um canhão de água com
químicos só por estar em frente a um hotel sem estar a ameaçar o quer que seja.
Hoje estive nas ruas com o povo de Istambul. Hoje construí barricadas com eles,
hoje atirei de volta as cápsulas de gás para cima da polícia, hoje fugi lado a
lado pelas ruelas com medo da Polis. Hoje passei por Gezi durante a noite e já
bulldozers a destruir tudo: o nosso parque, as nossas tendas, as nossas coisas.
Hoje vi pessoas quase a asfixiarem, vi feridas abertas nos corpos. Hoje senti
um tiro raspar-me as calças. Hoje fui tirado à bruta de dentro de um táxi pela
polícia e revistado de cima a baixo, tudo o que estava dentro da mochila, e
ofendido por ter um panfleto de Gezi como separador de um dos livros. Hoje
volto a casa com uma raiva deste grupo de pessoas, deste grupo de caras, deste
grupo de gravatas,destes Tayyips, e desta gente que veste o uniforme enquanto
despe a consciência. Hoje chego a casa estoirado, a sentir que não durmo há
dias, mas com a energia para correr todas as ruas desta cidade. Hoje chego a
casa com mais força para lutar. Principalmente porque sei que não estou
sozinho. Mas também sei que se a mensagem não passar aí para fora estamos
perdidos. Estou num país onde um homem tem o direito de mandar espancar
brutalmente milhares de cidadãs só porque ocuparam um parque. Sei que não podem
vir para cá, mas por favor levem-nos para aí."”
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