“História de amor motivou decisão do Supremo dos
EUA sobre união gay
Aos 84 anos, Edith
Windsor teve finalmente reconhecida a legitimidade da sua relação com a mulher
Thea Spyer, falecida há quatro anos
"Por favor, casem-se imediatamente", disse Edith Windsor aos amigos gays que lhe telefonaram
nesta quarta-feira (26) para comemorar a decisão histórica da Suprema
Corte americana, que declarou inconstitucional parte da Lei de Defesa do
Casamento (DOMA na sigla em inglês), abrindo caminho para que os casais do
mesmo sexo tenham acesso a benefícios federais até então exclusivos para os
heterossexuais.
Windsor, de 84 anos, é a autora da ação que contestou o trecho da Doma
que define o matrimônio como "união entre um homem e uma mulher". Ela
tomou a decisão de entrar na Justiça depois de ter sido obrigada a pagar US$
363 mil (cerca de R$ 805 mil) em impostos pela herança deixada por sua esposa, Thea Spyer .
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Como o casamento
das duas não foi reconhecido pelo governo federal, o caso foi tratado como se
Windsor tivesse recebido o patrimônio de uma desconhecida.
"Quero ir
agora mesmo para o Stonewall", disse Windsor segundo a revista americana
"The New Yorker", referindo-se ao bar no bairro nova-iorquino do
Greenwich Village que foi palco dos confrontos entre gays e a polícia em 1969,
transformando-se em um marco do movimento pelos direitos dos homossexuais.
Romance e luta pela vida
Foi no mesmo
Greenwich Village que teve início a história de Windsor e Spyer, agora
transformada em símbolo da luta pela igualdade de direitos de matrimônio para
os gays.
Era a década de 60. Windsor, nascida na Filadélfia, estava divorciada do
primeiro marido,Saul Windsor , com quem tinha sido casada por menos de um ano, e havia se mudado para
Nova York para poder viver abertamente como gay. Ela conta que, na noite em que
conheceu Spyer, uma psicóloga, as duas dançaram "até fazer buracos nas
meias".
Em 1967, elas
iniciaram um noivado que durou 40 anos até que, em maio de 2007, casaram-se em
Toronto, no Canadá. Spyer lutava contra esclerose múltipla desde 1977 e havia
ouvido de seus médicos que tinha apenas um ano de vida.
Após a notícia, as
duas mulheres decidiram oficializar a união de quatro décadas.
Com a progressão da
doença, que deixou Spyer progessivamente paralisada, Windsor abandonou seu
emprego na IBM para cuidar da esposa em tempo integral. Spyer morreu em 2009,
após lutar contra a doença durante 32 anos.
"Três semanas
antes de morrer, Thea disse: ‘Nossa, nós ainda estamos apaixonadas, não
é?'", lembrou Windsor em uma entrevista ao jornal britânico "The
Guardian".
Herança e angústia
Com a morte de
Spyer, Windsor herdou o apartamento no Greenwich Village, onde as duas viviam e
onde ela mora até hoje, e uma casa em Long Island.
Pela lei americana,
quando um dos cônjuges morre, pode deixar bens para o outro sem a necessidade
de pagamento de impostos estaduais. O Estado de Nova York reconhece o casamento
de pessoas do mesmo sexo, mas como o governo federal não reconheceu a união de
Windsor e Spyer, ela foi obrigada a pagar os impostos.
O amor de Edith e
Thea garantiu direitos para muitos outros casais gays
"Me sentia
angustiada pelo fato de que, aos olhos de meu governo, a mulher que eu amei, de
quem cuidei, com quem dividi minha vida, não era minha esposa legal, mas
considerada uma estranha sem nenhuma relação comigo", disse Windsor, em
lágrimas, ao comentar a decisão.
Windsor relatou ao jornal americano "The New York Times" que
teve dificuldade para conseguir um advogado. O caso foi assumido por Roberta Kaplan , do escritório Paul, Weiss, Rifkind,
Wharton & Garrison, ao lado da organização de defesa dos direitos civis
União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).
Nesta quarta-feira, enquando comemorava a decisão da Suprema Corte ao
lado de Kaplan, Windsor recebeu um telefonema do presidente americano, Barack Obama e agradeceu seu apoio.
"Me sinto honrada e radiante por
representar não apenas os milhares de americanos que tiveram suas vidas
afetadas negativamente pela Doma, mas aqueles cujas esperanças e sonhos foram
restringidos pela mesma lei discriminatória", disse Edith, numa coletiva
de imprensa”.
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