Cobranças
indevidas feitas por bancos, financeiras, operadoras de cartões de
crédito e empresas do setor de telecomunicações são a principal
reclamação dos consumidores a Procons de todo o Brasil. É o que mostra
levantamento elaborado com exclusividade para o GLOBO pela Secretaria
Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon-MJ). Os dados
do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec)
mostram que, de 1° de janeiro a 31 de agosto deste ano, foram
registradas 401.052 queixas sobre o problema, o correspondente a 32% do
total registrado pelos órgãos de proteção de todo o país (1,24 milhão de
reclamações).
Lorena
Tavares, diretora substituta do Departamento de Proteção dos Direitos
do Consumidor (DPDC-MJ) e coordenadora geral do Sindec, ressalta que
historicamente os problemas de cobrança são os mais reclamados. A
reincidência levou o órgão a investigar as origens da demanda. O estudo,
realizado ano passado, apontou que as causas da cobrança indevida são
operacionais (falhas no sistema) ou humanas (na oferta ao consumidor).
—
O mais grave é que o vendedor ou anúncio diz uma coisa e o contrato
outra. Falta clareza por parte dos fornecedores na hora de informar
sobre o que vai ser contratado. Muitas informações são omitidas,
principalmente no setor de telecomunicações — analisa Lorena.
Para
Gisela Simona, presidente da Associação Brasileira de Procons (Procons
Brasil), a expressiva incidência de cobranças indevidas na área de
Assuntos Financeiros e Telecomunicações não surpreende “porque são os
dois setores que mais lesam os consumidores no país atualmente, com
condutas repetitivas de cobrar valores de serviços não contratados e
desconhecidos”.
O
levantamento do Sindec também apontou que, na análise por setor, os
Assuntos Financeiros (bancos, cartões de crédito e financeiras) são os
que mais geram queixas aos Procons, com 35% do total de demandas
(438.595). É seguido de perto por Produtos, que somou 401.165
reclamações, o correspondente a 32% do total. Para Lorena, o recente
acesso das classes C e D aos serviços bancários explica o problema:
—
Foi um negócio sensacional para o mercado, mas as empresas não se
prepararam para atender estes novos consumidores. E há muitos contratos
ainda indecifráveis, que deixam dúvidas e motivos para questionamentos
quando chega uma fatura.
A presidente da Procons Brasil avalia que o volume maior de financiamentos liberados nos últimos anos agravou o problema:
—
O consumidor tem tido dificuldades de pagar essas contas, começa a
analisar o contrato e verifica uma série cobranças indevidas. Em
especial, tarifas que sequer foram informadas, ilegais ou ainda que
legais com valores elevados, portanto abusivas. Também é grande o número
de consumidores que procuram os Procons para tentar negociar débitos
com os fornecedores, momento em que o órgão detecta a abusividade de
cobranças.
Consumidor e empresas devem mudar comportamento
Para
fugir das cobranças indevidas, é necessário uma mudança de
comportamento tanto do cliente quanto da empresa, sugere Gisela. De um
lado, o consumidor deve ficar atento a cada cláusula do contrato e
questionar sempre que houver dúvida. Do outro, os fornecedores da área
financeira devem cumprir a norma que obriga informar ao cliente o Custo
Efetivo Total (CET) dos financiamentos e empréstimos (que são todos os
encargos e despesas incidentes nas operações de crédito e de
arrendamento).
—
Seja para que o consumidor possa exercitar o seu direito de escolha de
maneira mais correta ou para identificar as cobranças indevidas.
Atualmente, mais do que as taxas de juros, o que onera os contratos são
as tarifas — diz Gisela.
O
setor de telecomunicações ficou na terceira posição da lista dos mais
reclamados, com 385.199 queixas registradas no período. Em quarto e
último lugar estão os planos de saúde, com 18.492 demandas. Na avaliação
da presidente da Procons Brasil, o número pouco expressivo de
reclamações sobre planos não reflete a realidade do setor. É resultado
da falta de conhecimento do consumidor sobre seus direitos na área.
—
Quando surge o problema, às vezes é tão urgente encontrar uma solução
para uma negativa de cobertura de exame ou procedimento, por exemplo,
que ele acredita que somente o Judiciário com uma liminar pode resolver —
explica Gisela.
Procurada
para comentar o desempenho dos bancos no ranking, a Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), argumenta que o levantamento “não se
refere a reclamações propriamente ditas. Ele inclui dúvidas que são
esclarecidas durante o processo”. A federação observou, ainda, que em
2012 os seis maiores bancos do país receberam cerca de 3 milhões de
ligações em média, por mês, em seus SACs ,
e 15 mil ligações nas Ouvidorias, também média mensal. “Esse resultado
mostra a efetividade dos canais de atendimento (SACs e Ouvidorias) das
instituições financeiras, cujos investimentos são constantes no
aperfeiçoamento de processos de esclarecimento e resolução de conflitos
no relacionamento entre clientes e bancos”.
Fonte: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qualquer sugestão ou solicitação a respeito dos temas propostos, favor enviá-los. Grata!