O
Brasil precisa especializar os peritos médicos para facilitar o
processo de avaliação e reparação integral dos danos provocados pelos
acidentes de trabalho e subsidiar o Judiciário no momento de estabelecer
os valores das indenizações.
A opinião é do professor catedrático da Universidade de Coimbra (Portugal), Duarte Nuno Vieira, que é membro do conselho
da Confederação Europeia de Peritos em Avaliação de Danos Corporais
(Coredoc), que participou nesta sexta-feira 920), do II Seminário Nacional
de Prevenção de Acidentes de Trabalho, no Tribunal Superior do
Trabalho, falando sobre Avaliação e Reparação Integral do Dano: as novas
perspectivas na União Europeia.
Vieira fez questão de diferenciar Brasil
e União Europeia. No Brasil, a expressão dano moral é uma espécie de
dano, assim como o dano estético e o dano material. Na União Europeia,
usa-se duas definições: o dano patrimonial e o dano extrapatrimonial,
que abrangem, respectivamente, as repercussões do dano no patrimônio da
pessoa e as sequelas do dano em todos os aspectos da vida dela.
Há
20 anos, as autoridades europeias estudam como avaliar e reparar os
danos provocados pelos acidentes de trabalho. Chegou-se a elaborar uma
tabela , com sete níveis, estabelecendo valores para a perda - parcial
ou permanente - de cada membro do corpo humano. Mas há dificuldade em
colocá-la em prática numa comunidade que reúne 28 países, com diferentes
níveis econômicos, sociais e culturais. Cada país adota um valor
diferente para cada membro do corpo humano e isso traz problemas
práticos, afirmou.
Além da tabela com valores, foram definidas taxas de incapacidade parcial e permanente para o trabalho e para a vida em geral. Mesmo assim, o trabalho dos peritos é fundamental para avaliar as sequelas dos danos provocados por acidentes de trabalho e definir
a reparação. Ao contrário do que se imagina, os países europeus mais
ricos são os que pagam as menores indenizações. A Dinamarca paga valores
muito mais baixos que Portugal, observou.
Em
compensação, na Dinamarca - como nos demais países nórdicos -, o Estado
subsidia praticamente todas as necessidades do cidadão dinamarquês que
tem algum tipo de incapacidade, desde a compra de aparelhos ortopédicos
até a adaptação da casa da pessoa deficiente, por exemplo.
Em
Portugal, apenas os peritos especializados e registrados como tal podem
elaborar laudos técnicos para subsidiar as decisões judiciais. O
trabalho do perito é essencial porque é ele que vai analisar as sequelas
do acidente, conversar com a pessoa e ter todas as informações possíveis para avaliar as repercussões do acidente não só na vida profissional mas na vida em geral daquela pessoa, argumentou.
O professor já esteve várias vezes no Brasil participando de cursos para a formação de peritos médicos, em Belo Horizonte
e São Paulo, assim como peritos brasileiros estiveram em Portugal para
absorver a experiência europeia. Existem dois sistemas de avaliação e
reparação de danos - além do europeu, há o americano, seguido pelo
países anglo-saxões. Vieira acha que é uma perda de tempo e dinheiro
inovar na criação de um terceiro ( a possibilidade do Brasil querer
criar um). A roda já foi inventada, disse. O brasileiro é igual ao
paraguaio, ao colombiano, ao italiano. O que muda são o meio ambiente,
as atividades de cada um e a vida que cada um leva.
Fonte: Tribunal Superior do Trabalho
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