A
proteção ao direito de propriedade intelectual invocado por montadoras
de veículos para restringir o mercado de autopeças de reposição tem
resultado num exercício irregular do direito, afirmou o diretor
executivo do Procon/SP, Paulo Arthur Lencioni Góes. Ele foi ouvido pela
CPI das Autopeças nesta terça-feira, 27/8, em reunião presidida pelo
deputado Osvaldo Vergínio (PSD).
A
propriedade intelectual deve ser protegida, mas com bom senso, para
compatibilizar o desenvolvimento tecnológico e a proteção do consumidor,
avaliou.
Góes
informou ainda que o Procon/SP resolve, no âmbito administrativo, 89%
do total geral de demandas que a ele são encaminhadas. Considerando
apenas o segmento de reclamações sobre veículos, o índice de resolução
cai para 50%. Metade das demandas, portanto, deságua no Judiciário.
O
diretor do Procon observou que historicamente as montadoras têm
apresentado muita resistência em atender alguns aspectos do Código de
Defesa do Consumidor. Considerando apenas as quatro principais
montadoras, já aplicamos multas que somam R$ 12 milhões.
Defeitos recorrentes
No
primeiro semestre de 2013, o Procon recebeu 513 reclamações referentes a
veículos, contra 414 em igual período do ano passado, disse o diretor
do órgão. Ele ressaltou, no entanto, que é difícil detectar se o
problema decorre de uma peça protegida pela legislação de propriedade
intelectual. O que acontece é que o consumidor não consegue reparar o
veículo ou porque falta peça ou porque, feito o conserto, o defeito
volta a acontecer, completou. Mais difícil ainda, segundo Góes, é obter
extrajudicialmente a devolução do dinheiro ou a troca do veículo quando
este apresenta problemas recorrentes.
Fomento ao crime
Quanto
à ação que fabricantes independentes de autopeças apresentaram no
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão vinculado ao
Ministério da Justiça, alegando que a lei de patente industrial tem
configurado abuso de poder econômico por parte das montadoras. Góes
lembrou que algumas delas têm amparo judicial para a exclusividade na
venda de autopeças.
Mas
há um excesso que tem prejudicado os consumidores. E essa questão das
patentes pode se tornar um fomento à indústria do crime (na venda de
peças falsificadas ou obtidas de forma ilegal). Agora, o CADE está com a
faca e o queijo na mão, concluiu Góes.
A
Assembleia Legislativa, por meio da CPI, pode contribuir para o avanço
da proteção ao consumidor, ressalvou o diretor do Procon. No caso
específico que a comissão investiga, uma das medidas possíveis seria
garantir a obrigatoriedade de cessão de um carro reserva para o
consumidor quando se esgotasse o prazo legal para o reparo do veículo,
sugeriu Góes.
Ranking das reclamações
Ele
apresentou ainda aos parlamentares o ranking das montadoras que foram
alvo de mais reclamações no Procon/SP no primeiro semestre de 2013:
Hyundai (69 reclamações, 65% delas resolvidas com a ação do órgão),
Volkswagen (respectivamente 62 e 56%), General Motors (58 e 50%), Fiat
(43 e 58%) e Ford (32 e 63%).
As
afirmações do diretor executivo do Procon/SP responderam questões
formuladas pelos deputados Osvaldo Vergínio (PSD), Ramalho da Construção
(PSDB, relator), Jooji Hato (PMDB), Dilador Borges (PSDB) e Dr. Ulysses
(PV), que participaram da reunião.
Fonte: Assembléia Legislativa de São Paulo
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