Representantes
de agricultores familiares, quilombolas, ribeirinhos e atingidos por
barragem participaram, ontem (17), de audiência pública na comissão
especial que analisa a proposta do novo Código de Mineração (PLs 37/11,
5807/13 e quatro apensados).
Eles
lotaram o plenário da reunião, levaram faixas e foram unânimes ao
criticar o foco economicista da atividade mineral e de sua legislação
atual. Os participantes consideram que o privilégio ao aspecto econômico
dominaria o projeto de novo Código de Mineração, que tramita na Câmara
com urgência constitucional.
Propostas concretas
O
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração apresentou
três propostas concretas para garantir a chamada pegada socioambiental
ao novo Código de Mineração:
um zoneamento mineral que impeça essa atividade em corredores ecológicos, mananciais e territórios de populações tradicionais;
a antecipação do licenciamento ambiental, para que passe a ocorrer antes do processo de licitação das lavras; e
a ampliação do conceito de impactados pela atividade mineral.
Para
o representante do comitê, Raul Silva Telles do Vale, o marco mineral
deve reconhecer que são impactados não apenas os vizinhos da mineração,
mas todos os que estão na cadeia mineral. “É fundamental trazer
critérios para que eles possam ser devidamente compensados também.
O
representante da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
(Conaq), Denildo Rodrigues de Moraes, defendeu o direito de veto das
populações tradicionais quanto à mineração em seus territórios. Segundo a
Conaq, empresas mineradoras já apresentaram pedidos de concessão de
lavra sobre 98% das atuais terras quilombolas.
Consulta pública
Integrante
do Movimento Nacional pela Soberania Popular frente à Mineração, Maria
de Lurdes Souza reclamou ainda que a voz das comunidades tradicionais
não é devidamente ouvida nos processos de consulta pública: A gente se
posiciona contra um determinado empreendimento, constata que outros
integrantes da comunidade também foram contra, mas, quando vê, o
empreendimento é concretizado assim mesmo devido à força do poder
econômico. Ela também reclamou que a atual legislação privilegia os
interesses estrangeiros sobre as riquezas naturais brasileiras.
Dom
Werlang: a mineração gera impacto e conflitos em toda a cadeia, com
degradação socioambiental, concentração privada da riqueza e
distribuição igualitária dos impactos.
Maria
de Lurdes é agricultora familiar do norte de Minas Gerais, já visitou
vários municípios mineradores e considera que a proposta só vai inovar,
de verdade, se dirigir seu foco para a diminuição dos impactos sociais e
ambientais da atividade mineral.
Eu
olho para a minha serra hoje, a Serra Geral, e falo com meus filhos:
apreciem o quanto vocês puderem porque a destruição ali vai ser fatal.
Fomos a Paracatu (MG) e a Ilhéus (BA) e isso traz para a gente um
sentimento de tristeza de como estão abandonados aqueles locais. A gente
vê o nosso Estado omisso, sem saber como essas famílias estão vivendo e
só falando de royalties e royalties, que a gente nem sabe o que é isso.
Até porque, nós, agricultores, não temos que entender disso. Nós
entendemos que natureza é bom para a vida de todos. E onde é que está
esse respeito?
O
representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom
Guilherme Antonio Werlang, fez um apelo aos congressitas para que ouçam
as reclamações das comunidades a fim de que a votação da matéria leve em
conta o interesse social e não apenas o poder econômico. A atividade
mineral gera impacto e conflitos em toda a cadeia, com degradação
socioambiental, concentração privada da riqueza e distribuição
igualitária dos impactos, afirmou.
O
presidente da comissão especial, deputado Gabriel Guimarães (PT-MG),
disse que tais alertas serão levados em conta no relatório final. Nós
queremos construir, a partir das propostas que vocês colocaram, um texto
que entenda a realidade da região e, sobretudo, reconheça a importância
das comunidades que vivem nessas regiões.
Acesso à Câmara
Devido
às novas regras de acesso à Câmara, houve tumulto e muita reclamação na
identificação das pessoas que lotaram a audiência pública. Em nome da
Casa, o deputado Gabriel Guimarães apresentou um pedido formal de
desculpas aos representantes dos movimentos sociais.
Fonte: Câmara dos Deputados Federais
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