“Para juiz,
reforma trabalhista trará de '10 a 15 anos de discussão jurídica'
Presidente
da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) prevê
longo debate sobre nova legislação
'Direito do
Trabalho tem o compromisso de defender a parte mais fraca em uma relação'
São Paulo –
"A reforma trabalhista trará de 10 a 15 anos de discussão jurídica para
que tudo isso seja assentado pelo Tribunal Superior do Trabalho ou pelo Supremo
Tribunal Federal. Este é o papel do juiz do Trabalho, é isso que ele vai fazer
agora", afirma o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano, sobre a nova legislação
trabalhista sancionada no último dia 13. "É importante que a população
saiba, haverá, de imediato, provavelmente um aumento no número de ações e muita
discussão jurídica sobre o sentido destes textos quando forem admitidos como
constitucionais pelos juízes de primeiro e segundo grau."
O magistrado
foi entrevistado nesta segunda-feira (17) pela presidenta do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, ao lado de Aline Molina,
presidenta da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo
(Fetec-CUT/SP), no programa Momento Bancário. "O fato é que os juízes do
trabalho terão de fazer o chamado controle difuso de constitucionalidade, ou
seja, cada juiz verificará se os artigos da reforma estão ou não de acordo com
a Constituição", avalia Feliciano.
Ele destaca
alguns dos pontos que considera mais nocivos na nova legislação. "Na
origem do Direito do Trabalho, uma lei inglesa de 1806 tratava da saúde e da
moral do trabalho de aprendizes em fábricas de algodão. Isso é interessante
dizer porque a reforma diz, em seu artigo 611-B, parágrafo único, que as regras
sobre duração do trabalho em intervalos não são consideradas como normas de
saúde, higiene e segurança do trabalho", analisa. "Isto que há quase
250 anos se entendia como absolutamente incontestável, agora, por esta nova lei,
é considerado irrelevante do ponto de vista da segurança e saúde do
trabalho."
O presidente
da Anamatra desmonta um dos principais argumentos do governo para a promoção da
reforma. "Toda a retórica por trás da tramitação desse projeto ia no
sentido de que ele reduziria o volume de ações trabalhistas, e também
conferiria maior segurança jurídica. E, para o bem ou para o mal, o que vai
acontecer é o oposto", critica. "O Direito do Trabalho tem o
compromisso histórico de defender a parte mais fraca em uma relação jurídica
assimétrica."
Para Aline
Molina, o cenário frente a esse desmonte é de contínua luta contra os efeitos
da reforma. "Teremos muito trabalho na sociedade para frear esses
absurdos. Nós, bancários, fizemos uma conferência estadual para debater os
impactos da reforma trabalhista e indicamos ações para impor uma nova luta. É
bom frisar que dizem que estamos em crise, mas para banqueiro isso não existe.
Seus lucros continuam crescentes, e eles continuam promovendo demissões",
disse.
"Está
no nosso programa de lutas o respeito à jornada de trabalho de seis horas do
bancário. A tendência de terceirizações também nos causa enorme impacto, pois
não saberemos ainda nem como será o sigilo bancário neste novo modelo",
observa. "Outra questão importantíssima é o negociado sobre o legislado.
Isso enfraquece o trabalhador e os sindicatos. A partir do momento em que o
trabalhador vai negociar com o patrão, você sabe que as pessoas precisam de
emprego e os patrões querem mais e mais lucros."
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2017/07/juiz-reforma-trabalhista-10-15-anos-discussao-juridica. Acesso: 14/8/2017
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