Eu, MÁRCIA CRISTINA DINIZ FABRO, que publico neste Blog, também sou favorável às cotas raciais.

“Sou a favor das cotas raciais, e digo os motivos:
Se o problema não veio do além, a solução também não virá
Rob BatistaRob Batista in Made in Brazil
Cotas raciais, dentro de cotas sociais, não é privilégio, é reparação. Segundo o IPEA, 64% da população pobre são negra; 69% dos indigentes são negros. Em números absolutos, temos mais de 33 milhões de negros vivendo em condição de pobreza e mais de 15 milhões vivendo em condição de miséria absoluta. A causa dessa desigualdade não veio do além, assim como a solução não virá. Se durante séculos os negros não fossem tratados como escravos, teriam tido acesso aos mesmo direitos sociais, políticos e econômicos dos brancos, e não haveria toda essa massa negra, pobre e miserável que existe hoje. São dados, fatos, não opinião.

Os negros representam 70% dos 10% da população mais pobre do país, enquanto que os brancos somam 85% dos 10% da população mais rica. Assim como o rico herda riquezas de seus antepassados sem ser responsável por elas, nesse mundo, os pobres também herdam pobreza. Alguns parecem esquecer que miséria também se herda, mesmo quando não se tem culpa.

Sou a favor das cotas raciais, dentro de cotas sociais, porque é premissa delas que elas não devam existir para sempre. É uma política afirmativa de reparação de uma situação que têm durado séculos, e não vai mudar com a sorte ou bondade do mercado. Enquanto a maior parte da população pobre (os negros) viver esperando por uma solução mágica baseada na busca por oportunidades às quais ela não tem acesso efetivamente e na mão invisível do mercado, que só existe em conto de fadas continuarão vivendo na mesma merda.

Então algum colega meu deve me dizer: “ah, se o problema é a falta de oportunidades, que aumente as oportunidades. Quem quer, corre atrás e consegue”. Se vivêssemos no mundo de Nárnia tudo seria possível mesmo, mas não vivemos. A frase é bonitinha, mas é ridícula e só faz sentido para alguém intelectualmente capaz de usá-la, mas incapaz de entende-la. Aumentar as oportunidades é ótimo, mas não basta, já que aumentamos a oferta, mas não o acesso. O problema da população negra não é majoritariamente falta de oportunidades, mas de acesso. O negro médio nasce em um ambiente de pobreza, tem um limite de escolaridade baixa, vive em um ambiente hostil de violência e criminalidade, é discriminado pela cor em muitos ambientes “brancos” e, na imensa maioria dos casos, é a primeira vítima do crime.

Se você tem um amigo negro e rico, que ótimo, para ele. Mas saiba que seu amigo é uma rara exceção. Se não acredita, vá viver em uma favela, de sua escolha, por um mês. Duvido que volte pensando da mesma forma. Quase 70% da população branca está completamente fora dessa situação de pobreza ou miséria, assim é fácil acreditar que “quem quer, consegue”, é mais fácil acreditar em frase de livrinho de auto-ajuda. A população branca, na maior parte, tem, no mínimo, o acesso à uma série de direitos dos quais a grande maioria dos negros foram separados já no nascimento, herdaram essa situação, e vivem em um ambiente que só favorece a reprodução dessas condições, criando um círculo vicioso. Se nós, brancos, temos acesso a muitos serviços de baixíssima qualidade, imagine a grande parte dos negros, que nem o acesso tem. Aumentamos, pois, as oportunidades, mas a população branca, pelas condições em que vivem em sua maioria, continuará a ter mais acesso, proporcionalmente ao anterior, ou seja, nada muda.

As cotas raciais, dentro de cotas sociais (para garantir que negros ricos não sejam privilegiados pela cor), fazem parte importantíssima das mais impactantes políticas de garantia de acesso às oportunidades. É claro, isso não é suficiente. É preciso que existam cotas sociais. Quem é pobre, seja branco ou preto, não o é porque escolheu, mas porque nasceu e vive em condição de pobreza. Se a população pobre não tem acesso à oportunidades de emprego, vagas em universidades, bom sistema de saúde, habitação, etc, essa massa não sairá da pobreza por milagre. Se um dia o Estado favoreceu (e continua favorecendo) as elites, é preciso que dê atenção especial, senão majoritária, à população pobre, e um fato inquestionável é que a absoluta maioria da população mais miserável desse país é negra. As cotas devem ser reduzidas progressivamente conforme o imenso abismo da desigualdade social e racial for desaparecendo, até que essa população possa depender, sim, majoritariamente de seu próprio esforço. O ideal é que cotas não fossem necessárias, que todos pudéssemos ter acesso de igual para igual, mas essa, infelizmente, não é nossa realidade, não vivemos no mundo de Nárnia, onde leão fala, onde menino vira dragão e onde quem quer, consegue”.




Eu,  MÁRCIA CRISTINA DINIZ FABRO, que publico neste Blog, também sou favorável às cotas raciais.

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