“Novo Código de
Processo Civil vai à sanção
Parlamentares e integrantes de comissão de juristas comemoram
a aprovação do novo CPC Waldemir Barreto/Agência Senado
Senadores derrubam
dispositivo do novo CPC que facilitava intervenção judicial em empresas
O Senado concluiu nesta quarta-feira (17) a votação do novo
Código de Processo Civil (CPC), matéria que tramitou no Congresso por mais de
cinco anos. Em Plenário, os senadores examinaram os pontos pendentes do texto
de mais de mil artigos, que foi concebido para simplificar, agilizar e tornar
mais transparentes os processos judiciais na esfera civil. Agora a matéria
segue para sanção presidencial. As novas regras processuais entram em vigor um
ano após a publicação.
— O CPC é a possibilidade de simplificarmos,
desburocratizarmos todo o processo civil. Abre a perspectiva concreta de uma
justiça mais veloz, mais célere, que é uma das mais importantes e antigas
reivindicações da sociedade brasileira — comentou o senador Ricardo Ferraço
(PMDB-ES).
O texto-base foi aprovado na terça-feira (16), à noite, na
forma do substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto original do Senado
(PLS 166/2010), com modificações sugeridas pelo relator, senador Vital do Rêgo
(PMDB-PB). Porém, ficou para a sessão desta quarta a decisão sobre os 16
destaques apresentados, com o objetivo de alterar aspectos pontuais da
proposta.
Conversão de ações individuais
Entre os pontos examinados estavam duas inovações incluídas
no substitutivo pelos deputados: a possibilidade de conversão das ações
individuais em ações coletivas e uma sistemática de julgamento alternativa ao
embargo infringente, uma modalidade de recurso que está sendo extinta. O parecer
da comissão temporária que examinou o substitutivo, com base em relatório de
Vital do Rêgo, havia excluído do texto os dois mecanismos.
Convencido pelos argumentos dos defensores das inovações,
especialmente o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), Vital mudou seu
parecer inicial e apoiou a reinclusão dos dois dispositivos no texto final,
decisão que acabou confirmada por voto. O juiz pode decidir pela conversão da
ação individual em coletiva ao verificar que uma ação também afeta o interesse
de grupo de pessoas ou de toda a coletividade, como num processo por questão
societária ou caso de dano ambiental.
A solução alternativa aos embargos infringentes vai permitir
que, diante de decisão não unânime dos desembargadores no julgamento de
recursos de apelação (destinado a rever a sentença), outros julgadores seriam
convocados, em quantidade suficiente à inversão do resultado inicial, para
votar ainda na mesma ou na próxima sessão. O próprio Vital admitiu que ainda
havia “desconforto” sobre esse ponto.
Aloysio argumentava que o mecanismo não é um novo recurso
judicial, mas apenas uma técnica de julgamento que traria mais segurança
jurídica em decisões não unânimes, por pequena diferença. A seu ver, não há
atraso no processo, pois não é preciso indicar novo relator ou novas
contrarrazões. Por fim, convenceu Vital ao lembrar que o mecanismo ainda pode
ser vetado pela presidente da República.
— Se fecharmos a porta [ao mecanismo], está feito; mas no
exame de eventual veto ainda poderemos reexaminar a questão — apelou.
Clima tenso
Ao transferir a votação dos destaques para esta quarta-feira,
os senadores queriam ganhar tempo para construir acordo para a votação
consensual do máximo de pontos pendentes. Mas isso não aconteceu. Quando a
sessão foi aberta pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, tudo indicava que
a votação seria complicada. Alguns senadores chegaram a admitir que, naquela
situação, os pontos mais controversos ficariam para 2015. Porém, prevaleceu a
vontade de concluir a votação, para que a aguardada matéria fosse logo à
sanção.
Para facilitar o andamento dos trabalhos, dois senadores
retiraram seus destaques. Eunício Oliveira (PMDB-CE) abriu mão da tentativa de
restaurar uma modificação feita deputados, para impedir os juízes de determinar
bloqueio de dinheiro em contas ou aplicação financeira, como medida de
urgência, antes da sentença, para maior garantia de cumprimento de obrigações
devidas.
A chamada penhora on-line, que leva esse nome porque os
juízes podem usar sistema de integração bancária para agilizar o procedimento,
já é amparada pelo código vigente e estava no projeto aprovado pelo Senado.
Durante a tramitação na Câmara, os deputados suprimiram essa medida da
competência dos juízes, sob a alegação de que havia abuso na sua aplicação. Na
comissão temporária, no entanto, Vital restaurou a penhora on-line no texto.
Separação
Lídice da Mata (PSB-BA) também retirou destaque que buscava
eliminar de todo o texto referências à “separação” como forma de dissolução da
sociedade conjugal. Ela entende que essa alternativa teria sido abolida pela
Emenda Constitucional 66/2010, que permitiu o divórcio imediato. Na sessão,
revelou que foi convencida por Vital de que a separação deixou de ser uma etapa
obrigatória antes do divórcio, mas ainda pode ser uma opção para os casais,
inclusive com previsão no Código Civil.
Outro destaque aprovado eliminou a possibilidade de um juiz
determinar intervenção nas empresas, entre as alternativas para garantir o
resultado de uma sentença. Pela redação da Câmara, essa medida só deveria ser
adotada se não houvesse outra mais eficaz para o resultado pretendido.
Os senadores também mantiveram a redação completa da Câmara
para dispositivo que trata do impedimento à atuação de juiz quando qualquer das
partes for representada por escritório de advocacia do cônjuge ou companheiro
do magistrado, ou ainda parente consanguíneo ou afim, até terceiro grau.
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) apelou para que fosse restaurado
um trecho adicional, retirado pela comissão temporária, que pode ajudar a
acabar com “jeitinhos” que permitem aos parentes “terceirizar” a causa para
escritórios de sua escolha. Segundo ele, essa medida já foi regulamentada por
resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
— Esse é o caminho e não temos como flexibilizar em relação a
essa regra republicana — disse Randolfe”.
Fonte: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/12/17/novo-codigo-de-processo-civil-vai-a-sancao
Acesso: 20/12/2014
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