"Quando a aposentadoria pode parecer impossível (ou apenas entendiante)
Tendência mundial de aposentadoria tardia apresenta o outro lado do envelhecimento de quem nasceu entre 1946 e 1964: essas pessoas não querem ficar paradas

Em poucos dias, Jay Leno, de 63 anos, anfitrião do programa americano de TV Tonight pelos últimos 22 anos, cederá seu trono de comediante a Jimmy Fallon, de 39 anos. A contragosto, como de costuma acontecer. “Não é uma decisão minha”, disse Leno durante uma entrevista em 26 de janeiro com Steve Kroft, do “60 Minutes”.
A relutância de Leno para deixar seu trabalho – pela segunda vez – ecoa o sentimento de muitos dos baby-boomers, os nascidos entre 1946 e 1964. Ainda que a idade em que a média do aposentados americanos tenha parado de trabalhar seja os 61 anos, contra 59 anosem 2003 e 57 em 1993, uma pesquisa do Gallup em janeiro, feita com 1.929 pessoas dessa geração esperavam continuar na ative até o 66 anos ou mais. Ainda segundo o resultado, 10% esperavam nunca parar por conta própria – como se tivessem essa opção.

O presidente Barack Obama e Jay Leno no programa de despedida do apresentador
Muitos não têm, é claro. Enquanto o Ato Federal de 1967 contra a Discriminação Etária no Trabalho proibiu empresas de discriminar pessoas com mais de 40 anos (bombeiros e policiais são exceção), em 2012 a Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego recebeu 22.857 processos por discriminação por idade, mais que os 19.921 na década anterior.
“Companhias são centradas em métricas”, diz Roy L. Cohen, coach de carreiras e autor do “Guia de Sobrevivência do Profissional de Wall Street”. “Eles baseiam o salário, os bônus e até mesmo as decisões de números de funcionários em cima da contribuição do empregado para a empresa. Portanto, se houver uma redução na força de trabalho, você é mais velho e não é um grande produtor. Se houver uma redução na equipe, e você é mais velho e não é um grande produtor, seu pescoço estará a perigo.”
Aqueles que têm escolha frequentemente não têm ideia do significado do trabalho.
“Aposentadoria? Eu não sei qual a cara disso”, diz Márcia Cantarella, uma consultora de educação de 67 anos, de Nova York. “Não jogo golfe.”
Leia também: O que é aposentadoria?
Muitos baby boomers citam questões financeiras como a primeira razão pela qual eles ainda não largaram a corrida antes. Leno, que receberá US$ 15 milhões declarados simplesmente para deixar seu programa, é uma clara exceção. De acordo com a pesquisa do Gallup, estes que dizem ter “dinheiro suficiente para tudo” que querem prevêem uma aposentadoria aos 66 anos. Aqueles que não têm dinheiro, apostam na aposentadoria aos 73 anos, um número mais realista.
As informações encontradas são coerentes com o que os especialistas em finanças vêm alertando: os baby boomers, que estão frequentemente cuidando dos pais doentes e ajudando seus filhos deficientes enquanto tentam tocar as próprias vidas, estão estafados. Problema médicos, hipotecas, cartões de débito e crédito, empréstimos educativos e custo de vida levam boa parte do seu dinheiro.
A Fundação Nacional para Consultoria de Crédito, uma organização sem fins lucrativos cujos integrantes oferecem conselhos financeiros e educação financeira, dizem que cerca de 34% dos 2 milhões de consumidores que vieram em busca de ajuda 2012 tinham 55 anos ou mais, diz Gial Cunningham, porta-voz da fundação.

Há duas razões básicas pelas quais os baby boomers continuam trabalhando: porque querem e porque podem
Com esse tipo de obrigação, a aposentadoria voluntária está fora de cogitação para muitos. “Eu nem pensaria nisso”, diz Victor Owen Schwartz, de 55 anos, um importador e distribuidor de vinhos e bebidas que vive em Manhattan. “Minha filha mais velha acabou de entrar na faculdade. Temos mais três anos e meio, mais a graduação. Minha filha mais nova começa a faculdade em dois anos. Como eu me aposento? Não está nos planos.”
Uma expectativa de vida mais alta – 77 anos para os homens, 82 para mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) – também compõe a equação.
Baby boomers “estão começando a entender que vão viver muito mais na aposentadoria que esperavam”, explica Olivia S. Mitchel, diretora do Conselho de Pesquisa em Previdência da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia. “Seus filhos ainda não estão numa posição para sustentá-los e as fontes tradicionais de receita da previdência, como a seguridade social e outras aposentadorias, não estão parecendo muito robustas.”
Pouco robusta é pouco: a média do contra-cheque da previdência social para um trabalhador aposentado é de míseros US$ 1,3 mil por mês.
Até o presidente Barack Obama, reconheceu em seu discurso anual no congresso que o “pagamento da seguridade social frequentemente não é o suficiente”, quando anunciou a abertura de contas para a aposentadoria de funcionários de baixa renda.
“Muitas pessoas na minha faixa etária perderam o bonde, porque trata-se de fundos de pensão e o desaparecimento das aposentadorias”, explica George H. Schofield, um psicólogo do desenvolvimento que trabalha com foco na vida após os 50 anos e que também faz parte da geração baby boom. “Pessoas dez anos mais velhas que eu foram capazes de lançar mão das suas aposentadorias dos empregos de longo prazo e parar da forma clássica. O grupo da minha faixa etária não conseguiu isso, e muitos não guardaram dinheiro suficiente para isso.”
A despeito das questões financeiras, tem uma razão mais básica pela qual os baby boomers continuam trabalhando: porque querem, e, talvez mais importante, porque podem. Em um relatório trimestral de outubro, a divisão de gestão de fortunas para as Américas do UBS revelou que mais investidores não se sentem velhos até que passem dos 80 anos, contra uma referência de 60 anos da geração de seus pais.
Michael Casey, por exemplo, que fará 61 anos em junho, foi colorista de cabelos em Manhattan por 40 anos e está tão ocupado que não pega novos clientes. “Eu tenho uma clientela muito fiel que usa meus serviços por muitos anos”, conta Casey, que também trabalha em teatros, filmes, palestras e musicais. “Eu me divirto. Eu trabalho mais seletivamente. Você muda, descobre quem você. Não está tudo acabado quando você envelhece, você apenas desenvolve os interesses e continua a utilizá-los.”
Bart Potenza, de 76 anos, se sente de forma similar. Potenza e sua mulher, Joy Pierson, são donos e administradores de três restaurantes vegetarianos em Nova York e gerenciam aproximadamente 160 empregados. Ele diz não conseguir se imaginar desistindo.
“Eu acordo cheio de animação a maior parte dos dias”, afirma Potenza. “Quando você se sente bem, você simplesmente quer fazer mais. Leio muito, sou muito curioso. Estou sempre aberto para a ideia de enfrentar novos desafios trazendo meu conhecimento para a mesa para que outros aprendam comigo. Sou muito comprometido com o que faço. Isso me mantem ativo.”
Ser comprometido também é uma forma de manter Arline Tarte na ativa. No ano 2000, depois de uma longa carreira dirgindo o departamento de uma gráfica, Tarte, agora com 71 anos, deixou a indústria por espontânea vontade. Por dois anos, ela jogou bridge, foi a teatros e balés, assistiu a shows de jazz. Mas Arline diz não ter achado isso inspirador. “Eu estava acostumada a fazer tudo aquilo enquanto a administração da empresa estava envolvida”, ela conta. “Foi entediante.”

Quando se aposentam, idosos muitas vezes se sentem entediados
Então, Arline pegou sua licença de corretora de imóveis e partiu para a ação. No seu ponto de vista, sua idade é um ativo. “Com a idade, você ganha experiência e conhecimento”, explica. “Você só fica velho se agir como velho, e eu acho que a vida é uma questão de atitude.
Olivia Mitchell, da Wharton School, acredita que o país precisa “revisitar alguns daqueles estímulos para a aposentadoria precoce”, como ser autorizado a pegar uma parte do fundo de pensão do trabalho aos 59 anos sem penalidades ou redução dos benefícios aos 62 anos. Ela acredita que as pessoas acumulam os benefícios pelo maior tempo possível e não se aposentam.
“Se você deixar seu benefício social para os 70 anos em vez de pegá-lo aos 62 anos, seu benefício mensal é 76% maior”, diz. “Então, isso já retorno suficiente para continuar trabalhando.”
Isso também mantém as pessoas jovens, aparentemente. Eugene Warren, de 90 anos, co-fundador do Buchbinder & Warren, uma gestora de imóveis em Nova York, vai ao escritório todos os dias por volta das dez da manhã – três vezes por semana, ele treina com um personal trainer antes, e fica até as 5 da tarde. Eugene também é muito envolvido com as negociações cotidianas e participa de todas as reuniões.
Leno contou a Kroft que ele não sabia o que fazer após seu monólogo de despedida. Mas se o passado der alguma dica, ele não estará longe tão cedo. Ano passado, ele se apresentou mais de 100 vezes além do seu show na televisão. Seu último “Tonight Show” vai ao ar na quinta feira (6). No dia seguinte, ele tem uma apresentação na Flórida".
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