Vai sair de férias em janeiro?

 Autor: Rizzatto Nunes:Professor de Direito, Mestre e Doutor em Filosofia do Direito pela PUC-SP; é Livre-Docente em Direito do Consumidor pela PUC-SP e Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.

“Já começaram as ofertas para as festas de fim de ano e também para as férias de janeiro. Para que dê tudo certo, é necessário que o consumidor haja com cautela e tome as providências cabíveis com antecedência. Por isso, hoje, escrevo mais um artigo sazonal,  cuidando das questões que envolvem esse período.
Organizar férias nem sempre é fácil,  por uma série de motivos  tais como a falta de tempo, a inexperiência dos iniciantes nesse tipo de empreitada, o prazo de duração da viagem,  o local ou locais escolhidos, as características de cada passeio, se será por conta própria ou numa excursão etc.
Às vezes,  as férias são parte de um planejamento financeiro que envolve longo tempo de economias e guarda do dinheiro necessário para se fazer a tão sonhada viagem. É muito frustrante quando ela não dá certo. Em muitos casos,  o aspecto emocional entra em jogo: como o consumidor está com muita vontade de ir, está ansioso para adquirir logo os bilhetes, fazer as reservas, arrumar as malas etc e pode , por isso,  acabar sendo alvo de enganações. Os fornecedores conhecem o consumidor e sabem de suas expectativas e nem sempre estão muito preocupados com as dificuldades que ele pode enfrentar.
É preciso, portanto, muita cautela para que dê tudo certo. Assim, para ajudar aquele que estiver planejando viajar nas férias de janeiro próximo, lembro algumas dicas básicas.    
Cuidado com ofertas muito vantajosas              
Em primeiro lugar, é preciso cuidado com o chamariz de algumas propagandas veiculadas nos canais de tevê, estações de rádios e também em revistas, jornais, folhetos e malas diretas e que oferecem preços com enormes vantagens.   
Muitas vezes, o anúncio apresenta o custo de apenas parte do roteiro escolhi¬do. Por exemplo, mostra o preço da passagem aérea e não coloca o valor dos hotéis ou, então, apresenta o preço individual dos hotéis em quarto para três ou quatro pessoas, sem a advertência de que poderia sair mais barato em cômodos para uma ou duas etc.    Outras vezes, o anúncio fala em oito dias de estada e, de fato, o roteiro só oferece seis, pois o primeiro e o último são gastos dentro do avião e nos traslados.               
Por isso, é importante pedir por escrito o preço do total da viagem, incluindo passagem aérea, transporte terrestre, hotéis, traslados, refeições e todos os demais itens oferecidos. Tudo discriminado.               
Obtido o custo total,  vale a pena pesquisar preços comparando os oferecidos pelas agências. A pesquisa pode ser feita pelo telefone, via internet, pessoalmente nas agências ou mediante os anúncios dos jornais e revistas. Com os dados na mão, é possível pechinchar e obter bons descontos.    
Preços em moeda estrangeira                  
Em viagens internacionais, como regra geral,  os preços são apresentados em moeda estrangeira, geralmente dólar americano ou euro. É importante fazer a conversão para saber quanto realmente custará em moeda nacional. É verdade que, como o real ainda continua valorizado e com certa estabilidade em relação as demais moedas, já há ofertas em reais. De todo modo, não se pode esquecer de fazer o cálculo na nossa moeda de tudo o que será gasto. E, claro, é bom não esquecer de que, uma vez estando no exterior, tudo será cobrado e calculado na moeda estrangeira local, ainda que o pagamento esteja sendo feito com cartão de crédito.  
Checando escalas de vôos
Um item que, às vezes, passa despercebido no transporte aéreo: as escalas que o vôo fará. É possível  desdobrar a passagem para visitar outra localidade, caso se deseje e sem custo ou com pequeno custo adicional.  
Categoria do hotel e refeições
É bom checar a categoria do hotel, assim como certificar-se se no preço da diária está  incluído ou não o café da manhã (No Brasil, sempre incluso, mas em alguns lugares não. Por exemplo, na Europa, é comum os hotéis cobrarem o café da manhã separado). Não esquecer também de verificar se há meia pensão (uma refeição por dia) ou pensão completa (duas refeições por dia).  
Fotos enganosas  
Fotos sempre iludiram e atualmente com os recursos do fotoshop as chances de transformarem um lugar realmente muito simples num paraíso ideal aumentaram muito. Evidentemente, ainda que o fornecedor seja honesto, ele escolherá as fotos que realçarão os aspectos positivos do lugar ou das acomodações, publicará as que tiverem melhor luz, melhor ângulo etc. É preciso atenção, portanto, com as fotos dos locais a serem visitados. Deve-se olhá-las de forma bastante crítica. É verdade que nem sempre se conseguirá o intento, pois há casos extremos em que as fotos nem são do local. Quando o consumidor chega lá, vê outra coisa!              
Por isso tudo, a saída é checar as condições por outros métodos, pesquisando na internet e conversando com amigos que já estiveram no lugar.
“Pacote” turístico
Comprando um "pacote turístico", como regra, deve-se pedir por escrito o roteiro detalhado, item por item, dos dias e horários e daquilo que será feito a cada momento. E, deve-se atentar também para atrações e eventos especiais que estão programados para o decurso da viagem. O preço, às vezes, não está incluído no pacote e, estando no local, o consumidor acaba tendo de pagar em separado para participar do evento.  
Pagar à vista ou à prazo?
O Brasil vive um momento especial com o real valorizado em relação ao dólar e demais moedas e, desse modo, ao menos nas viagens internacionais, talvez valha a pena pagar à vista. Mas, tirando essa situação atual e para os casos de preços fixados em reais, a verdade é que é sempre bom não pagar tudo à vista, pois, em caso de problemas, é possível iniciar uma discussão judicial suspendendo ou depositando em juízo os pagamen¬tos que ainda irão vencer. Isso ajuda a pressionar o vendedor, facilitando a realização de um bom acordo.
É também verdade que, às vezes, o parcelamento implica custos finan¬ceiros muito elevados, que o inviabiliza, mas há muitas ofertas de parcelamentos sem qualquer acréscimo: vale aproveitar e pagar dividido pelo mesmo preço à vista.  
Guarda de documentos
Nem precisaria repetir, mas não se deve esquecer de pedir recibo discriminado dos pagamentos efetuados e guardá-los junto dos demais comprovantes da viagem.
O lema é, pois, agir com cautela. Em caso de problemas, é possível pleitear ressarci¬mento dos danos na volta da viagem, mas, como se sabe, a documentação comprobatória de tudo é fundamental. Infelizmente, os serviços hoteleiros, dos aeroportos, de transporte etc, tanto aqui como no exterior, pioraram muito, o que tem gerado um aumento no número de violações aos direitos dos consumidores e também das demandas judiciais.
Não se esqueça de produzir e guardar as provas
Alguns exemplos de problemas: o hotel não corresponde ao pro¬metido; chegando ao hotel, o consumidor verifica que a reserva não estava feita; descobre que não tinha banheiro no quarto; que está obrigado a pagar pelo passeio que estava incluso no pacote; que faltaram os traslados prometidos etc.
Por isso, não custa anotar que é importante produzir as provas para garantir o direito de ressar¬cimento dos danos na volta, por exemplo, anotando nome, telefone e endereço de pessoas que poderão servir de testemu¬nhas; pedindo declaração por escrito das ocorrências nos hotéis, aeroportos etc.; tirando fotos, fazendo filmagens etc.
Boas férias
É isso. Sair de férias exige cuidado e paciência no preparo da viagem, pois, infelizmente, as armadilhas para o consumidor são muitas e a qualidade dos serviços, como disse,  tem deixado a desejar”.                                                           


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