Estresse na adolescência e na adultez jovem.

“Psicol. estud. vol.18 no.1 Maringá Jan./Mar. 2013

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722013000100019
RESENHA
Estresse na adolescência: problema e solução

Luiz Ricardo Vieira Gonzaga

Doutorando em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC/CAMP), com mestrado em Psicologia pela PUC/CAMP, com especialização em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e MBA em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP). Bolsista CAPES I e participante do grupo de pesquisa "Avaliação psicológica de potencial humano" na linha de pesquisa instrumentos e processos em avaliação psicológica no doutorado de Psicologia como Profissão e Ciência da PUC-Campinas


O estresse é uma reação do organismo, com componentes psicofisiológicos que ocorrem quando o indivíduo se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, o irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que o faça imensamente feliz (Lipp, Arantes, Burity & Witzig, 2002). Esta reação ocorre, em geral, diante da necessidade de adaptação exigida em momentos de mudança (Everly, 1989). Suas consequências na saúde física e mental têm sido estudadas desde a metade do século passado, a partir dos estudos do endocrinologista Hans Selye (1936); contudo, para Calais, Andrade e Lipp (2003), poucos estudos têm se dedicado à investigação do estresse na adolescência e na adultez jovem, havendo poucos trabalhos disponíveis, particularmente no Brasil. (grifo nosso)

Nesse contexto, a coletânea "Estresse na adolescência: Problema e solução: A possibilidade de jovens estressados se tornarem adultos saudáveis", organizada pela psicóloga Professora Doutora Valquiria Aparecida Cintra Tricoli, em 2010, aborda um dos principais fatores de risco ao desenvolvimento nessa faixa etária: o estresse.

Esta obra é composta por estudos e produções científicas de autores de diversas áreas do conhecimento, como Psicologia, Pediatria, Saúde Mental e Educação, apresentando informações sobre as implicações do estresse nos adolescentes, nos seus aspectos clínicos, sintomas, fontes de estresse, seu manejo e diagnóstico. A coletânea está organizada em seis capítulos, cujos textos descrevem de uma maneira singular os aspectos ligados ao estilo parental, uso de drogas (lícitas e/ou ilícitas) e à influência do estresse na escolha profissional do adolescente.

No Prefácio, o Dr. Cristiano de Nabuco de Abreu, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP, analisa o conteúdo do livro, ressaltando sua importância como peça fundamental na instrumentalização dos profissionais da área da Saúde para lidarem com o impacto do estresse nessa idade.

O Capítulo I, intitulado "Adolescência - Aspectos clínicos", escrito pelo médico pediatra Carlos Roberto Tricolli Patara, descreve os aspectos clínicos e o desenvolvimento do adolescente em termos do nível maturacional e hormonal. Cita a importância dos produtos nutricionais oriundos dos macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos) e micronutrientes (vitaminas e minerais). Enfatiza o risco da puberdade precoce, do retardo puberal e seus efeitos, e alerta para o risco da gravidez precoce.

O Capítulo II, intitulado "Estresse na adolescência: Sintomas, fontes e manejo" e escrito por Valquiria Tricoli, trata da definição do estresse. Ao longo do texto, a autora o ilustra com casos clínicos relacionados ao tema. Salienta a necessidade de se verificar o grau de debilidade do organismo diante do estresse e a importância do auxílio ao adolescente, pois, se este não aprender estratégias de enfrentamento adequadas para lidar com os problemas, poderá tornar-se um adulto também vulnerável a problemas emocionais e comportamentais.

Tricoli, no Capítulo III - "Diagnóstico do stress na adolescência"-, fornece ao leitor informações para o diagnóstico de estresse na adolescência. Segundo essa autora, para identificá-lo, devem-se verificar os elementos relacionados ao estresse nessa fase. Este pode ser de ordem interna ou externa, bem como ter uma sintomatologia peculiar a esta fase de desenvolvimento. São também indicados alguns instrumentos que avaliam o estresse nessa faixa etária, como a Escala do Estudante (Holmes & Rahe, 1967) e a Escala de Estresse para Adolescentes (ESA) de Tricoli e Lipp (2006). Esses instrumentos ajudam a diagnosticar o estresse na adolescência, contribuindo para a orientação de intervenções que promovam a redução do estresse e o consequente desenvolvimento de patologias.

O Capítulo IV, intitulado "Stress na adolescência e estilo parental", foi escrito pela doutoranda em Psicologia da PUC-Campinas, Ana Paula Justo, e aborda a influência do estilo parental em relação ao estresse do adolescente. Segundo Justo, a abordagem dos estilos parentais tornou-se um dos mais utilizados meios de análise acerca das interações socializadoras na família e suas influências sobre os filhos ao longo do tempo, constituindo-se em um importante elemento para o diagnóstico e o planejamento de intervenções com pais e filhos. É o capítulo mais extenso, derivado da dissertação de mestrado. Finaliza destacando a importância dos estilos parentais no desenvolvimento dos filhos.

No Capítulo V - "A influência do stress sobre o uso de drogas na adolescência", a pesquisadora Iracema Francisco Frade considera que a adolescência tem sido considerada um período crítico no ciclo vital para a iniciação no uso de drogas, seja pela simples experimentação seja pelo uso abusivo. Para essa autora, as causas etiológicas do uso de drogas são complexas e alvo de discussões. Entre os fatores de risco, são citados os aspectos culturais, interpessoais, psicológicos e biológicos. Frade salienta que as drogas podem ter uma função importante para os jovens, tanto do ponto de vista pessoal quanto social. Dessa forma, compreender a dimensão da falta de autocontrole e da imprevisibilidade de uma situação tida como estressante é um aspecto significativo para a compreensão do papel do mecanismo do estresse e sua relação no aumento do abuso de substâncias.

No último, Capítulo VI - "O stress na adolescência e a escolha profissional"-, o psicólogo Juliano Rodrigues Afonso, especialista em Saúde Mental da Infância e Adolescência, define a adolescência como um momento de intensas transformações e transições, em que surgem muitos dilemas e aflições. Cita a importância da família na escolha profissional, na medida em que influencia direta ou indiretamente nesse processo. Aborda a relação da escolha profissional com as demandas escolares e o nível de estresse, analisando os mecanismos de estresse e o como este pode ser desencadeado.

Em sua conclusão o livro ressalta o ineditismo do material compilado, produzido por poucos pesquisadores voltados ao estudo na prevenção e tratamento do estresse em adolescentes. Enfatiza que o controle do estresse na adolescência permite o desenvolvimento de adultos mais preparados, criativos e produtivos e com uma melhor qualidade de vida. Por outro lado, seria importante que a obra elucidasse também quais são as estratégias de enfrentamento (coping) usualmente utilizadas pelos jovens como forma de lidar com as situações indutoras de estresse. Segundo Skinner e Zimmer-Gembeck (2008), essas estratégias serão extremamente importantes para compreender como os adolescentes experimentam, reagem, pensam e lidam com eventos estressantes, fornecendo, assim, uma base para programas de intervenção preventiva para essa fase de desenvolvimento.

É um livro de leitura clara e agradável, que apresenta uma perspectiva geral do estresse na adolescência e dos seus aspectos centrais, como as fontes de estresse, seus sintomas, fases, seu manejo e tratamento. Apresenta uma variada bibliografia para leitores que tenham interesse em aprofundar-se no tema. Certamente, é uma fonte literária importante para pesquisadores e para leigos.



REFERÊNCIAS

Calais, S. L., Andrade, L. M. B, & Lipp, M. E. N. (2003). Diferenças de sexo e escolaridade na manifestação de estresse em adultos jovens. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(2), 257-263.         [ Links ]

Everly, G. S. (1989). A clinical guide to the treatment of the human estresse response. New York: Plenum Press.         [ Links ]

Holmes, T. H., & Rahe, R. K. (1967). Type a behavior and your heart. New York: Plenum Press.         [ Links ]

Lipp, M. E. N., Arantes, J. P., Buriti, M. S., & Witzing, T. (2002). O eestressee em escolares. Psicologia Escolar e Educacional, 6(1), 51-56.         [ Links ]

Selye, H. A. (1936) A syndrome produced by diverse nocuous agents. Nature, 138, 32.         [ Links ]

Tricoli, V. A. C. (2010). Estresse na adolescência: Problema e solução: A possibilidade de jovens eestresseados se tornarem adultos saudáveis. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Tricoli, V. A. C., & Lipp, M. E. N. (2006). Escala de Estresse para Adolescentes- ESA. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Zimmer-Gembeck, M. J., & Skinner, E. A. (2008). Adolescents' coping with stress: Development and diversity [Introduction to special issue on adolescent coping]. Prevention Researcher, 15, 3-7.         [ Links ]





 Endereço para correspondência
Luiz Ricardo Vieira Gonzaga. Avenida Benjamin Constant, nº 2030, apto 52, Ed.Saquarema, Bairro Cambuí, CEP 13025-005, Campinas-SP, Brasil.
E-mail: tccricardogonzaga@yahoo.com.br

Recebido em 19/09/2011

Aceito em 15/12/2012”


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