“Brasileiros evitam pagar as contas pela internet por medo
de fraudes
Por Taís Laporta - iG São Paulo | 05/08/2014 12:00
No Brasil, apenas 4 em cada 10 transações bancárias foram
feitas pela internet; consumidores abrem mão da comodidade online por julgar o
sistema dos bancos inseguro
“Não confio em transações bancárias pela internet”.
Apreensivo, Thiago Rodrigues, de 25 anos, prefere pagar seus compromissos em
caixas eletrônicos ou enfrentar longas filas no banco. Ele desativou o acesso
online a todas suas contas e, quando precisa visualizar os extratos, vai
pessoalmente a uma agência.
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mas há risco
“Meu pai teve um valor retirado de sua conta e não conseguiu
recuperar. Depois descobrimos que ele usou um computador que havia sido
hackeado”, recorda. Thiago só voltaria a acessar o banco pela internet em
último caso: "Talvez se as agências físicas ou os caixas eletrônicos forem
extintos", brinca.
72% dos consultados pelo iG evitam acessar os bancos pela
web por considerar o ambiente inseguro
Um levantamento do iG com 108 internautas que não pagam as
contas pela internet constatou que 72% evitam o acesso online por acreditar ser
um ambiente inseguro. Outros 10% responderam que não sabem utilizar o sistema –
e 12% justificam que preferem ir ao banco pessoalmente.
Norte e Nordeste são maiores alvos de fraudes com cartão
pela internet
“Adoro ficar na fila. Sempre conheço pessoas interessantes”,
justificou uma internauta consultada pela pesquisa. Uma minoria de 4,6% citou
outros motivos para evitar o internet banking, como preguiça ou falta de
dinheiro.
A psicóloga Luciana Kotaka, de 44 anos, se incomoda em
enfrentar longas filas para fazer pagamentos, mas ainda assim prefere os meios
convencionais. “Não sinto segurança, meu computador já foi invadido diversas
vezes, mesmo utilizando bons antivírus”.
Para Luciana, um sistema mais seguro e fácil de utilizar a
faria repensar o uso do internet banking. “Agilizaria muito meu tempo e traria
mais comodidade no dia a dia”.
Receio é infundado, dizem especialistas
Na opinião do especialista em direito digital do escritório
Patricia Peck Pinheiros Advogados, Márcio Mello Chaves, o receio das pessoas em
acessar o banco pela internet não tem mais tanto fundamento quando se fala do
nível de segurança destes sistemas.
“Os portais de internet banking estão de acordo com melhores
práticas de segurança digital, como a dupla autenticação, teclados virtuais e a
transmissão criptografada de dados”, argumenta.
O avanço da tecnologia bancária, segundo Chaves, fez com que
os criminosos deixassem de focar os bancos para mirar os correntistas. Depois
que as instituições financeiras começaram a vencer os fraudadores, diz o
advogado, o perigo migrou para o usuário.
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bancários
Quando os bancos começaram a investir em tecnologias de
segurança para vencer os criminosos, o consumidor passou a ser vítima de seu
próprio desleixo, acredita Chaves. “Ele deve estar atento e adotar medidas
mínimas de segurança na rede”.
O delegado da Polícia Civil e especialista em crimes
cibernéticos, Emerson Wendt, atribui a resistência ao internet banking a uma
cultura do medo que tem se generalizado. “Notícias de ameaças, vulnerabilidades
e relatórios das empresas de antivírus geram essa insegurança na web”, analisa.
Apesar da resistência, adesão ao internet banking cresce
Embora a rejeição ao sistema seja considerável, a adesão ao
serviço online cresce todo ano a uma taxa de dois dígitos desde 2009, de acordo
com a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos). No fim de 2013, 40% das
contas correntes do País estavam habilitadas para acessar o canal – um aumento
de 13% ante 2012.
41% das transações bancárias em 2013 foram feitas pela
internet
Ainda segundo a Febraban, pelo menos 41% de todas as
transações bancárias no ano passado foram feitas pela internet. Foi o canal
mais representativo – e quase o dobro (23%) das transações em caixas
eletrônicos. Para dar apoio a esse crescimento, os bancos investiram R$ 20,6
bilhões na segurança de seus sistemas.
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O internauta Alexandre Souza, por exemplo, não coloca mais
os pés em bancos ou casas lotérias “Se está cheio de vírus na internet, que se
dane, pois você paga para seu dinheiro ficar seguro. Além disso, você vai
economizar um baita tempo”, diz.
Para o especialista em crimes digitais Felipe Brumatti
Sentelhas, também do escritório Patrícia Peck, o perigo não está nos portais de
internet banking. O problema está fora do ambiente do banco, como o computador
do usuário, vítima de phishing (emails e sites maliciosos que enganam usuários)
e malwares (aplicativos que capturam dados pessoais).
Uma pesquisa do laboratório da Eset América Latina divulgada
em julho identificou que os trojans (vírus) bancários são a forma de ataque
preferida dos criminosos brasileiros, bem acima da média mundial. A família de
códigos Win32/TrojanDownloader.Banload é a que mais afeta os brasileiros.
Uma das formas de identificar o golpe, segundo o Eset, é
verificar o endereço original do hiperlink enviado por email antes de
acessá-lo. Caso ele não corresponda ao remetente, não se deve clicar.
Renda e escolaridade influenciam acesso
Quanto maior a renda do brasileiro, maior o acesso a
serviços financeiros online, mostrou uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as
Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), feita entre setembro de
2013 e fevereiro de 2014.
Enquanto apenas 8% das pessoas que recebem um salário mínimo
por mês (R$ 724) pagam as contas pela rede, mais da metade (55%) dos que
recebem acima de 10 salários mínimos (R$ 7.240) acessam o internet banking.
Trojans bancários são a forma preferida de ataque dos
criminosos no Brasil, mostra pesquisa
O grau de escolaridade também está ligado a esse acesso.
Enquanto apenas 6% dos que estudaram até o ensino fundamental utilizam os
serviços bancários online, a proporção de pessoas com ensino superior que pagam
as contas pela rede chega a 50%.
Para Chaves, do Patrícia Peck Advogados, o principal
empecilho ao acesso virtual dos bancos é a própria postura das pessoas. Isso
inclui atitudes com a segurança de computadores e celulares e informações
compartilhadas nas redes sociais.
“Apesar de os sistemas bancários operarem dentro das regras
de segurança, eles ficam limitados ao comportamento de seus correntistas”, diz.
Como solução, ele sugere que o usuário cuide de seus equipamentos, mantenha
sistemas, antivírus e firewalls atualizados, e confira a veracidade de
possíveis tentativas de phishing, aplicativos e sites antes de clicar em
qualquer link”.
Acesso: 05/08/2014
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